11/05/2021
Na CPI da Covid, presidente da Anvisa diz ter conduta diferente de Bolsonaro sobre vacinação: “essencial”
BRASÍLIA, DF - O presidente da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse em depoimento à CPI
da Covid no Senado nesta terça-feira que as declarações do presidente Jair
Bolsonaro sobre vacinas vão contra o que é defendido pela agência reguladora e
afirmou que sua conduta em relação à pandemia é diferente da que é adotada por
Bolsonaro. Diante de uma pergunta do relator da Comissão Parlamentar de
Inquérito, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que citou várias declarações de
Bolsonaro contrárias à vacina, Barra Torres afirmou que questionar a vacinação
vai contra a razoabilidade histórica e apontou a imunização como essencial para
sair da pandemia. "Todo o texto que Vossa Excelência leu e trouxe à
memória agora vai contra tudo o que nós temos preconizado em todas as nossas
manifestações públicas, pelo menos todas aquelas que eu tenho e aquelas que eu
tenho conhecimento que diretores, gerentes e funcionários da Anvisa tem
feito", afirmou, diante das declarações do presidente mencionadas pelo
relator. "Entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de
ler, que a política de vacinação é essencial. Nós temos que vacinar as pessoas.
Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão do uso de
máscara, de isolamento social e de álcool gel imediatamente." O presidente da Anvisa também foi questionado pelo relator
da CPI se partilhava da opinião de Bolsonaro em relação ao distanciamento
social e ao uso de máscaras, e respondeu: "Destarte a amizade que tenho
pelo presidente, a conduta do presidente difere da minha neste sentido. As
manifestações que faço têm sido todas no sentido do que a Ciência
determina". Indagado sobre o passeio de motocicleta que Bolsonaro fez no
último domingo, quando o presidente voltou a gerar aglomerações em Brasília
novamente sem usar máscara, o presidente da Anvisa disse ser contra
aglomerações e sustentou que qualquer posição contrária a medidas preventivas
como o uso de máscaras "não tem nenhum sentido do ponto de vista sanitário". Bolsonaro já questionou em diversas ocasiões os imunizantes
contra Covid-19. Ele chegou a comemorar como uma vitória pessoal a breve
interrupção no ano passado dos testes com a CoronaVac, vacina da chinesa
Sinovac, conduzidos pelo Instituto Butantan, após a morte de um voluntário que
posteriormente soube-se se tratar de um suicídio não relacionado ao imunizante. O presidente também travou embate com a Pfizer em 2020, por
considerar que o contrato oferecido pelo laboratório trazia cláusulas abusivas.
Bolsonaro resistia, principalmente, ao fato de a empresa se eximir de
responsabilização civil no caso de eventuais efeitos adversos. Nesse contexto,
chegou a afirmar, quando comentava os possíveis efeitos colaterais do
imunizante, que "se você virar um jacaré, é problema seu". Bula da Cloroquina No depoimento à CPI, Barra Torres também manifestou posição
divergente da de Bolsonaro ao ser perguntado sobre o uso da cloroquina contra a
Covid-19. Segundo ele, os estudos existentes até o momento apontam que o
medicamento não é eficaz no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. "A minha posição sobre o tratamento precoce da doença
não contempla essa medicação", afirmou. "Contempla, sim, a testagem,
o diagnóstico precoce e, obviamente, a observação de todos os sintomas que a
pessoa pode ter e tratá-los, combatê-los o quanto antes", declarou. O diretor-presidente da Anvisa confirmou ainda que
participou de reunião no Palácio do Planalto, relatada à CPI pelo ex-ministro
da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em que foi aventada mudança na bula da
cloroquina para incluir a indicação para o tratamento contra a Covid-19. Barra Torres, que referiu-se à proposta como
"absurda", confirmou a existência de um documento que sugeria a
mudança, comentado pela médica Nise Yamaguchi. O diretor-presidente relatou que
também participaram da reunião o então ministro da Casa Civil, Walter Braga
Netto, Mandetta, e um outro médico do qual ele não se lembra. Ele negou a
presença de algum filho de Bolsonaro neste encontro. Barra Torres explicou que somente quem pode pedir uma
mudança na bula de um medicamento é o laboratório responsável pelo remédio e a
solicitação só é aprovada pela Anvisa diante da documentação que dê base para a
mudança. Ele afirmou que reagiu de forma "até deseducada" à sugestão
de mudança na bula da cloroquina.
"Quando houve uma proposta de uma pessoa física fazer
isso, isso me causou uma reação um pouco mais brusca. Eu disse: 'Olha, isso não
tem cabimento, isso não pode'. E a reunião, inclusive, nem durou muito mais
depois disso", afirmou. Reuters
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