20/05/2021
Pazuello atribui a Bolsonaro decisão de não intervir na crise do oxigênio no Amazonas
BRASÍLIA, DF - O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello
atribuiu ao presidente Jair Bolsonaro a decisão de não aprovar um pedido de
intervenção na saúde pública do Amazonas durante a crise da falta de oxigênio,
em janeiro. Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira, 20, o general
afirmou que o chefe do Executivo estava presente na reunião ministerial que
negou a providência. É a primeira vez que Pazuello liga o chefe do Executivo a
uma das medidas do governo mais questionadas na gestão da crise sanitária. Nas
demais declarações prestadas ontem e nesta quinta, o ex-ministro, general do
Exército, buscou blindar Bolsonaro e negar interferências do presidente em
temas como a compra de vacinas e a recomendação de cloroquina. A intervenção federal foi solicitada pelo senador Eduardo
Braga (MDB-AM), em 15 de janeiro. Na época, o esgotamento do estoque de
oxigênio medicinal levou o sistema de saúde regional a um colapso. Pacientes
com a covid-19 morreram por falta do insumo, fundamental nos casos moderados e
graves. "Na reunião ministerial, o governador foi chamado,
apresentou sua posição e houve uma decisão nessa reunião de que não seria feita
a intervenção", disse Pazuello, sem especificar a data do encontro.
"O presidente da República estava presente. A decisão foi tomada nessa
reunião", completou. Segundo o ex-ministro, o governador do Estado, Wilson Lima
(PSC), foi ouvido na reunião, alegou que tinha condições de liderar o
enfrentamento à crise e o governo Bolsonaro tomou a decisão de não intervir. Lima é aliado do presidente. No mês passado, homenageou
Bolsonaro com o título de cidadão honorário do Amazonas. A cerimônia também
funcionou como desagravo a Pazuello, que teve o trabalho na crise do oxigênio
elogiado na ocasião. A Advocacia-Geral da União (AGU) informou ao Ministério da
Saúde que a pasta tomou ciência da falta de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro.
Pazuello, porém, alegou à CPI que ficou sabendo pelas autoridades sanitárias do
Amazonas apenas dois dias depois, no dia 10, quando a situação já era grave. Há, ainda, um documento no qual o ex-secretário executivo do
Ministério da Saúde, Élcio Franco, admite que Pazuello soube da crise no
abastecimento de oxigênio no Amazonas em 7 de janeiro, em conversa por telefone
com o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo. A nota assinada por
Franco foi uma resposta ao requerimento de informações enviado pelo deputado
José Ricardo (PT-AM). "Está claro que nós identificamos essa fragilidade à
época, fizemos o que deveríamos fazer como representantes do povo do Amazonas.
Pedimos e assumimos perante a opinião pública e perante a Nação a
responsabilidade do pedido. Nós pedimos intervenção na saúde pública do
Amazonas para salvar vidas. O governo não quis fazê-lo", afirmou Eduardo
Braga.
Na quarta-feira, na primeira parte do depoimento de Pazuello,
houve desentendimento entre ele e Eduardo Braga após o ex-ministro alegar que
os estoques de oxigênio só ficaram negativos por três dias. Estadão
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