29/05/2021
Polícia identifica homem que vendia falsos atestados médicos para furar fila de vacinação da Covid
SÃO PAUILO, SP - A Polícia Civil identificou o suspeito de
vender falsos atestados médicos no Centro de São Paulo para quem quer furar a
fila da vacinação contra a Covid-19. O inquérito policial para investigar o
crime flagrado pelo G1 foi instaurado nesta sexta-feira (28) após publicação da
reportagem. O homem, de 35 anos, já tem passagem anterior pelo mesmo
crime, venda de atestado médico falso, em agosto de 2018. Ele ainda não foi
localizado pelos policiais. “Nós sempre agimos ali, toda área do 1ºDP e da Seccional
Centro. E diante dessa demanda maior de atestados médicos, por conta da
prioridade da vacinação, nós também fizemos um trabalho mais abrangente
justamente para reprimir esse tipo de crime", afirmou o delegado Roberto
Monteiro, titular da 1º Seccional Centro. Os documentos fraudados têm sido comercializados em meio à
imunização dos grupos prioritários com comorbidades [pessoas com doenças
crônicas] que foram inseridos no Plano Nacional de Imunização (PNI), definido
pelo governo federal. “Nós instauramos o inquérito policial e em tempo recorde a
Polícia Civil de São Paulo já identificou o autor por uma ferramenta de
investigação que é uma das mais modernas do mundo com o auxílio das imagens da
reportagem”, ressaltou Monteiro. O delegado também ressaltou que a Polícia Civil participa da
operação Marco Zero, que começou há dois meses e engloba a região central da
cidade, em parceria com diversos órgãos, como a Polícia Militar, Secretaria de
Justiça, Guarda Civil Metropolitana, Subprefeitura da Sé e Secretaria de
Desenvolvimento Social. A compra e venda de atestados médicos é considerada um crime
e os infratores podem pegar até 5 anos de prisão. O médico que emite um
atestado com teor falso comete o crime do artigo 302 do código penal, que é
falsidade de atestado médico e a pena pode chegar a 1 ano de prisão. Quando o atestado tem assinatura e o carimbo falsos, o
acusado responde pelo uso de documento falso, o crime é inafiançável, com pena
de 1 a 5 anos de prisão. Já o comprador responde por uso de documento falso e a
pena também varia de 1 a 5 anos. Flagrante O G1 acompanhou, por dois dias seguidos desta semana, a
movimentação e a oferta de atestados na Praça da Sé, um dos principais cartões
postais da cidade, e na Praça do Carmo, perto da unidade do Poupatempo, a
poucos metros de distância. Para ter acesso ao documento falso basta circular pelas ruas
da região para ser abordado por plaqueiros, que são os intermediários. Eles
chamam os pedestres para oferecer fotos 3x4 e cópias de xerox. Os valores para conseguir furar a fila da vacina podem
chegar até R$ 400 pelo kit completo, dependendo do que foi solicitado. Para
conseguir a imunização, além do atestado com a declaração da doença, também é
possível apresentar um laudo médico ou receita da medicação. O G1 comprou um atestado com nome fictício, por R$ 130, para
verificar se existiam falhas no sistema. O falso atestado não foi utilizado
para imunização, apenas como teste. A equipe do G1, sem se identificar, questionou um plaqueiro
que oferecia atestados como conseguir o documento para tomar a vacina contra a
Covid-19. Em seguida, o homem pediu para aguardar na Praça do Carmo e chamou um
colega, que negociou a venda. O vendedor, que se identificou como Alan, disse que o
documento era feito por uma médica que trabalha na rede pública municipal. Ele
apenas questionou qual o CID da doença que devia constar do documento. “Você só
precisa marcar seu nome completo e a doença que você quer”, disse. O vendedor garantiu que o atestado era “quente” e podia ser
utilizado sem receio. “Você vai gastar um troco, R$ 130, mas tem o carimbo da
médica, o CRM, tudo certinho. É quente, CRM você pode puxar, existe. Vem o nome
do hospital tudo certinho, a própria médica trabalha no hospital lá”,
justificou. Ele ainda explicou que fica com a menor parte do dinheiro. “O preço é único, nós ganhamos R$ 20 de comissão e o
restante fica tudo pra ela [médica]”, argumentou. Em seguida o homem pediu para esperar em uma lanchonete
enquanto buscava o atestado para “não dar bandeira”. Quando voltou, deu sinal
para que a negociação fosse encerrada no Metrô, para não ter problemas com a
polícia. Dentro da estação, ele reforçou que o atestado era
verdadeiro. “É UBS da prefeitura. Aqui não tem golpe, não, pode ver que é
carimbo, e não xerox. Se quiser puxar o CRM dela, pode puxar, aqui não é golpe,
não.” O atestado veio com o Código Internacional da Doença (CID),
o carimbo e o CRM (o registro profissional) de uma médica da UBS Jardim IV
Centenário, que fica na região de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo. O
registro profissional da médica é verdadeiro.
O G1 não conseguiu localizar a profissional nem seus
advogados. Mas a prefeitura disse que ela desconhece a prática. G1, com Foto: Tatiana Santiago/G1
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