18/06/2021
Bolsonaro diz que contaminar população é mais eficaz que a vacina contra a Covid-19
BRASÍLIA, DF - O presidente Jair Bolsonaro afirmou na noite
desta quinta-feira (17), durante transmissão ao vivo pela internet, que — para
efeito de imunização contra a Covid — é mais eficaz contrair o vírus que se
vacinar. A fala de Bolsonaro remete à estratégia da chamada
"imunidade de rebanho", contestada por infectologistas e
especialistas em saúde pública. "Eu já me considero — eu não me considero não, eu estou
— vacinado, entre aspas. Todos que contraíram o vírus estão vacinados, até de
forma mais eficaz que a própria vacina porque você pegou o vírus para valer.
Então, quem contraiu o vírus, não se discute, esse está imunizado",
afirmou Bolsonaro na "live", ao lado do deputado Major Vitor Hugo
(PSL-GO), ex-líder do governo na Câmara. A tese da imunidade de rebanho pressupõe a superação da
pandemia por meio de um alto número de infectados, o que, supostamente,
deixaria grande parcela da população imunizada. Só que essa estratégia, de
acordo com especialistas, não funciona para a Covid. Muitas pessoas morreriam
no processo. Além disso, quem já teve a doença pode ser reinfectado. De acordo com levantamento do consórcio de veículos de
imprensa, com base em dados das secretarias estaduais de saúde, 17,6 milhões de
pessoas já têm ou tiveram Covid. O ritmo de vacinação segue lento no país.
Somente 11,3% da população tomaram as duas doses da vacina. A Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) estima que o país necessita aplicar 1,7 milhão de doses a cada
dia útil para vacinar todos os adultos até o fim do ano. Na última sexta-feira (11), em depoimento à CPI da Covid, o
médico sanitarista Claudio Maierovitch, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
falou sobre a imunidade de rebanho. Segundo ele, uma estratégia como essa levaria
à morte as pessoas mais frágeis. "Rebanho se aplica a animais, e fomos
tratados dessa forma", declarou o sanitarista. Estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo (USP) em parceria com a organização não-governamental Conectas Direitos
Humanos mapeou os atos normativos e a propaganda da administração federal do
Brasil durante a pandemia da Covid-19. O relatório concluiu que o governo
"optou por favorecer a livre circulação do novo coronavírus, sob o
pretexto de que a infecção naturalmente induziria à imunidade dos
indivíduos". A CPI investiga se um "gabinete paralelo" de
aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro contribuiu para o que o presidente
adotasse ideias contrárias à ciência durante a pandemia e se a imunidade de
rebanho foi uma delas. Na mesma transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro
repetiu que será a "última pessoa" a se vacinar no país e falou sobre
o "estudo" que pediu ao Ministério da Saúde para desobrigar o uso de
máscaras por quem tenha sido vacinado ou contaminado.
"A questão da vacina, né? Eu estou dando exemplo.
Depois que a última pessoa se vacinar, eu me vacino. Tá? Enquanto isso, eu
continuo tranquilo na minha. Inclusive, encomendei um estudo para o ministro
Queiroga, da Saúde, para desobrigar o uso da máscara por quem porventura já
tenha sido infectado ou vacinado. Quem está contra, é negacionista porque não
acredita na vacina", disse. G1, com Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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