22/06/2021
Governo favoreceu livre circulação do coronavírus apostando em suposta imunidade, diz estudo
SÃO PAULO, SP - Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a organização não-governamental
Conectas Direitos Humanos mapeou os atos normativos e as propagandas feitas
pela administração federal do Brasil durante a pandemia da Covid-19. O
relatório concluiu que o governo "optou por favorecer a livre circulação
do novo coronavírus, sob o pretexto de que a infecção naturalmente induziria à
imunidade dos indivíduos". A pesquisa foi feita com base em documentos públicos, que
foram analisados por uma equipe com especialistas em saúde, direito, ciência
política e epidemiologia. Eles investigaram os registros de normas federais,
jurisprudência, discursos oficiais e manifestações públicas das autoridades. Nesta segunda-feira (7), uma das autoras, a professora Deisy
Ventura, informou que o documento foi encaminhado para a CPI da Covid. Em
reunião virtual neste domingo (6), o chamado "G7", grupo majoritário
da comissão, decidiu abrir novas frentes de investigação e convocar a médica
Ludhmila Hajjar, que rejeitou convite para ser ministra da Saúde. Além disso,
Osmar Terra (MDB-RS) — apontado como articulador do chamado "gabinete
paralelo" da Saúde — também deverá ser convidado. Sobre a pesquisa: - Os dados coletados têm datas entre 3 de fevereiro de 2020
a 28 de maio de 2021; - No caso das propagandas, foram incluídos também discursos
políticos, ideológicos e morais, além da divulgação de informações falsas e/ou
sem comprovação científica pelo governo; - Foram identificados 3.049 atos normativos (leis, medidas
provisórias, decretos, portarias, resoluções) relacionados à pandemia durante
2020; e 580 entre 1º de janeiro e 30 de abril de 2021. Após a análise do material pelos pesquisadores, eles
confirmaram a hipótese inicial de que a gestão federal busca pela
"imunidade de rebanho (ou coletiva) por contágio (ou transmissão) como
forma de resposta à Covid-19" - mesmo contra recomendação da Organização
Mundial da Saúde (OMS). O estudo diz que não há um investimento amplo em
técnicas preventivas e de isolamento social. A imunidade de rebanho é o que acontece quando muitas
pessoas ficam imunes a uma determinada doença, seja porque foram vacinadas ou,
em um segundo caso, porque foram contaminadas pelo vírus em si e adquiriram
imunidade. Tanto a OMS, quanto especialistas ouvidos pelo G1, apontam que o
custo é alto quando a segunda opção é escolhida como política de saúde pública,
com um risco maior de mortalidade da população.
Além disso, de acordo com os autores, durante a pandemia,
aconteceu por parte do governo uma "incitação constante à exposição da
população ao vírus", uma "banalização das mortes e das sequelas
causadas" e a "obstrução sistemática às medidas de contenção
promovidas por governadores e prefeitos". G1, com Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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