29/06/2021
Fiocruz: Estudo sugere maior risco de reinfecção pela variante Delta do novo coronavírus
RIO DE JANEIRO, RJ - Um estudo recém-publicado com a
participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sugere que a variante Delta do
novo coronavírus, detectada inicialmente na Índia, pode aumentar o risco de
reinfecções. A pesquisa aponta que o soro de pessoas previamente infectadas por
outras cepas é menos potente contra esta variante viral. O problema é observado
de forma marcante entre os indivíduos anteriormente infectados pela variante
Gama, identificada originalmente em Manaus e atualmente dominante no Brasil,
assim como pela variante Beta, detectada pela primeira vez na África do Sul.
Nestes casos, a capacidade de neutralizar a cepa Delta é onze vezes menor. O soro de pessoas vacinadas também tem potência reduzida
contra a variante originária da Índia, mas os dados apontam que as vacinas
continuam efetivas. A capacidade de neutralizar a cepa é 2,5 vezes menor para o
imunizante da Pfizer e 4,3 vezes menor para o da Astrazeneca. Os autores do
trabalho ressaltam que os índices são semelhantes aos verificados com as
variantes Gama e Alfa – que emergiram no Brasil e no Reino Unido,
respectivamente. Não há evidência de fuga generalizada da neutralização,
diferentemente do registrado com a variante Beta – com origem na África do Sul. “Parece provável, a partir desses resultados, que as vacinas
atuais de RNA e vetor viral fornecerão proteção contra a linhagem B.1.617 [que
possui três sublinhagens, incluindo a variante Delta], embora um aumento nas
infecções possa ocorrer como resultado da capacidade de neutralização reduzida
dos soros”, afirmam os pesquisadores no artigo. A pesquisa foi publicada na renomada revista científica
Cell. Liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o estudo foi
realizado por meio de uma grande colaboração científica envolvendo 59
pesquisadores do Reino Unido, China, Brasil, Estados Unidos, África do Sul e
Tailândia. No Brasil, participaram o Laboratório de Vírus Respiratórios e do
Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Laboratório de Ecologia de
Doenças Transmissíveis na Amazônia do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz
Amazônia) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM). Cepas divergentes A variante Delta é um subtipo da linhagem viral B.1.617, que
emergiu na Índia em outubro de 2020. Em maio deste ano, após ser associada ao
agravamento da pandemia na Índia e no Reino Unido, a cepa foi declarada como
variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com
a OMS, a variante circula em, pelo menos, 85 países do mundo. Além disso, nove
nações sequenciaram vírus da linhagem B.1.617, sem realizar a identificação da
sublinhagem viral. No Brasil, infecções causadas pela variante Delta foram
diagnosticadas em viajantes no Maranhão, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e
Goiás, segundo o Ministério da Saúde. No dia 19 de junho, a Secretaria
Municipal de Saúde de Goiânia confirmou o primeiro registro de transmissão
local da cepa. Assim como outras variantes de preocupação, a Delta possui
mutações na região do genoma responsável por orientar a produção da proteína
espícula do novo coronavírus – também chamada de proteína S ou Spike, na nomenclatura
em inglês. Essa molécula, que se localiza na superfície da membrana viral,
compondo a coroa do vírus, é responsável pela primeira etapa do processo de
infecção: a adesão do vírus às células. Por isso mesmo, é o alvo dos anticorpos
mais potentes produzidos pelo organismo para neutralizar o Sars-CoV-2. Segundo os cientistas, mutações na proteína S podem ser
positivas para o vírus de duas formas. De um lado, aumentando sua capacidade de
adesão aos receptores presentes células do hospedeiro, o que leva à maior
transmissibilidade do patógeno. De outro, modificando a região da proteína S
onde se ligam os anticorpos, permitindo, assim, que o vírus escape do sistema
imune. As análises do novo estudo mostram que a afinidade da
variante Delta pelos receptores celulares é maior do que a observada nas
linhagens que circularam no começo da pandemia. No entanto, é inferior à
verificada com as outras variantes de preocupação. Por outro lado, a variante
originária da Índia apresenta um perfil antigênico bastante divergente em
relação aos outros vírus estudados. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram a
ação de 113 soros, obtidos a partir de pacientes infectados e imunizados, sobre
seis cepas do novo coronavírus. São elas: uma linhagem próxima do vírus
inicialmente detectado em Wuhan, na China, no começo da pandemia; as variantes
de preocupação Alfa, Beta, Gama e Delta; e a variante de interesse kapa, que é
intimamente relacionada à variante delta, sendo também um subtipo da linhagem
B.1.617. A metodologia permitiu mapear o espaço antigênico das
diferentes cepas. Além de confirmar o distanciamento expressivo da variante
Delta em relação às variantes Gama e Beta, a análise revelou a posição central
da cepa Alfa, originária do Reino Unido. De acordo com os cientistas, o achado
indica que vacinas baseadas na variante Alfa podem proteger amplamente contra
as variantes atuais, o que pode ser uma informação relevante para a formulação
de novos imunizantes.
“Está se tornando mais provável que mais de uma variante
seja necessária para fornecer proteção conforme o complexo sorológico do
Sars-CoV-2 continua a evoluir. Sugerimos que um componente, provavelmente,
continuará a incluir cepas relacionadas a Wuhan ou B.1.1.7 [variante Alfa]
visto que, pelo menos até agora, elas parecem estar mais centralmente
posicionadas no complexo sorológico, sendo capazes de fornecer proteção contra
múltiplas variantes virais”, dizem os pesquisadores no trabalho. Agência Fiocruz
de Notícias, com Foto: Reprodução/Pixabay
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