09/08/2021
Fiocruz alerta para novas variantes do vírus da Covid-19: “pandemia não acabou”
RIO DE JANEIRO, RJ - A nova edição do Boletim Observatório
Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indica que o surgimento e o
crescimento de novas variantes do novo coronavírus, como a Delta, acendem um
alerta. Conforme o estudo, a pandemia ainda não acabou e novos cenários de
transmissão e de risco podem surgir. De acordo com a Fiocruz, o elevado patamar de risco de
transmissão do vírus Sars-CoV-2 pode ser agravado pela maior transmissibilidade
da nova variante, por isso, é fundamental combinar vacinação com o uso de
máscaras, incluindo campanhas de informação para a população e busca ativa de
quem ainda não se vacinou. O boletim também confirma a reversão no processo de
rejuvenescimento da pandemia no Brasil. “Novamente, as internações em leitos de
UTI para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) e, principalmente, o número de
óbitos concentram um maior número de idosos”, apontou. A incidência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)
ainda permanece em níveis altos, muito altos ou extremamente altos no país,
como indicaram os dados das semanas epidemiológicas 29 e 30,entre 18 e 31 de
julho de 2021. Como a maior parte dos casos da doença é relacionada aos casos
de infecção por covid-19, esses níveis indicam transmissão significativa do
vírus Sars-CoV-2. Os pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo boletim,
recomendaram entre as medidas de proteção a vacinação completa para evitar as
mortes e casos graves causados pela doença. “É fundamental o esquema vacinal
completo para todos os elegíveis, a fim de proteger contra os casos graves e
óbitos por covid-19, incluindo os relacionados à variante Delta, além da
necessidade de ampliar e acelerar a vacinação”, disseram. Perfil A edição destacou que a proporção de casos de internações
entre idosos, que atualmente é de 37,5%, ficou em 27,1% na semana 23, entre 6 e
12 de junho. Já a proporção do número de óbitos, que, na mesma semana era de
44,6%, agora está em 62,1%. O Boletim mostrou ainda uma redução importante da
proporção de internações nas faixas etárias de 50 a 59 anos e uma diminuição
discreta na faixa de 40 a 49 anos. Apesar disso, os cientistas alertaram que
“qualquer conclusão sobre a mudança apontada no perfil da pandemia no Brasil
ainda é precoce e deve ser acompanhada de perto nas próximas semanas”. Segundo o trabalho, o perfil de mortalidade por idade em
países de baixa e média renda, como é o caso do Brasil, é diferente do
observado em países ricos. “Os mais jovens enfrentam um risco maior de morrer
em países em desenvolvimento do que em países de alta renda. Isso ocorre porque
as populações não idosas nesses países têm uma maior incidência de doenças
preexistentes e menos acesso a tratamento e cuidados que potencialmente salvam
vidas.” Um agravante da situação são as taxas de emprego informal
mais altas, transportes públicos superlotados e habitações precárias com muitas
pessoas para poucos cômodos, que são características de países de baixa renda e
colocam as pessoas em maior risco de exposição ao Sars-CoV-2. “Esses riscos
parecem afetar desproporcionalmente adultos não idosos e reforça nossa
impressão inicial de que a vulnerabilidade específica à idade na pandemia
varia, o que é fundamental para determinar se e como a adaptação das políticas
de distanciamento”, observaram. Na avaliação dos pesquisadores, mesmo com números ainda
preocupantes, a boa notícia do boletim é a queda de incidência e mortalidade
por covid-19. A taxa de mortalidade diminuiu 1,3% ao dia, enquanto a taxa de
incidência de casos de covid-19 foi reduzida em 0,3% por dia. “A maior redução
da mortalidade e menor da incidência pode ser resultado das campanhas de
vacinação, que seguramente reduzem os riscos de agravamento da doença, mas não
impedem completamente a transmissão do vírus Sars-CoV-2”, apontaram. A positividade dos testes, que ainda continua alta, indica
que há intensa circulação do vírus. A taxa de letalidade está em torno de 2,8%,
patamar elevado em relação a países que adotam medidas de proteção coletiva,
testagem em massa e cuidados intensivos para doentes graves. “O elevado patamar
de risco de transmissão do vírus Sars-CoV-2 pode ser agravado pela maior
transmissibilidade da variante Delta, em paralelo ao lento avanço da imunização
entre os grupos mais jovens e mais expostos, combinado com maior circulação de
pessoas pelo retorno das atividades de trabalho e educação. Nesse sentido, é
importante refutar a ideia de que a vacinação protege integralmente as pessoas
de serem infectadas e transmitir o vírus, o que pode se tornar um risco
adicional com a nova variante de preocupação Delta”, relataram os cientistas. Ocupação de leitos Uma boa notícia é que as taxas de ocupação de leitos de
unidade de terapia intensiva (UTI) para covid-19 em adulto, no Sistema Único de
Saúde (SUS), seguem melhorando. Conforme o boletim, 19 estados registram taxas
de ocupação inferiores a 60% e, por isso, estão fora da zona de alerta. Outros
seis estados e o Distrito Federal estão na zona de alerta intermediário, que
tem taxas de ocupação iguais ou superiores a 60% e inferiores a 80% e somente
um estado, Goiás, na zona de alerta crítico com taxa superior a 80%. Os destaques negativos entre 26 de julho e 2 de agosto, com
expressiva elevação do indicador, foram Mato Grosso, que passou de 63% para
79%) e a capital Cuiabá, saindo de 55% para 74%. Houve aumentos ainda no estado
do Rio de Janeiro (59% para 61%) e nas capitais Fortaleza (55% para 65%), Belo
Horizonte (58% para 60%), Rio de Janeiro (90% para 94%) e Campo Grande (67%
para 74%). As quedas no indicador atingiram pelo menos cinco pontos
percentuais em Roraima (68% para 58%), Pará (61% para 54%), Tocantins (71% para
64%), Maranhão (65% para 57%), Paraíba (34% para 26%), Alagoas (46% para 26%),
Sergipe (45% para 37%), Minas Gerais (56% para 51%), São Paulo (55% para 49%),
Paraná (64% para 59%), Rio Grande do Sul (65% para 60%) e Distrito Federal (83%
para 61%). Regiões A Região Nordeste está fora da zona de alerta do indicador,
onde também se somam o Norte, exceto por Tocantins, o Sudeste, com exceção do
Rio de Janeiro, e o estado do Paraná, localizado na Região Sul. Nas capitais, Rio de Janeiro (94%) e Goiânia (94%), as taxas
de ocupação de leitos de UTI covid-19 são superiores a 80%. Já São Luis (69%),
Fortaleza (65%), Belo Horizonte (60%), Curitiba (67%), Porto Alegre (66%),
Campo Grande (74%), Cuiabá (74%) e Brasília (61%) estão na zona de alerta intermediário.
Fora da zona de alerta estão Porto Velho (40%), Rio Branco (26%), Manaus (59%),
Boa Vista (58%), Belém (49%), Macapá (33%), Palmas (49%), Teresina (50), Natal
(39%), João Pessoa (23%), Recife (34%), Maceió (21%), Aracaju (46%), Salvador
(44%), Vitória (46%), São Paulo (45%) e Florianópolis (36%). Síndrome respiratória São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Acre,
Goiás, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal apresentaram taxas superiores a
10 casos por 100 mil habitantes em casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave.
Embora estejam com taxas inferiores, os outros estados possuem ainda níveis
superiores a um caso por 100 mil habitantes. “Como os casos de SRAG são
essencialmente severos, que demandam hospitalização, ou casos que vieram a
óbito, as taxas preocupam, por impor demanda significativa ao sistema
hospitalar”, alertaram os cientistas. Projeto
Segundo a Fiocruz, o projeto InfoGripe indica estimativas
para as semanas que colocam a maior parte do país em estabilidade nas taxas de
incidência de SRAG. “Alguns estados como Mato Grosso do Sul, Pará e Acre estão
com tendência de aumento na incidência. São Paulo, Espírito Santo, Paraíba,
Bahia, Sergipe, Roraima, Tocantins e Maranhão têm tendência de redução nos
casos. Os demais estados encontram-se em situação de estabilidade. Entretanto,
tal cenário não é confortável para a saúde pública, uma vez que a transmissão
permanece elevada”, informou. Agência Brasil, com Foto: Pixabay
|