23/01/2021

Família de 10 irmãos perde um deles para Covid-19 e se despede do lado de fora de cemitério em Manaus



Do lado de fora do Cemitério do Tarumã, em Manaus, uma família acompanhava o enterro de uma de suas irmãs, de 61 anos, na manhã do último sábado (16), após ela não resistir a complicações da Covid-19. A família de 10 irmãos, que hoje sofre com a perda de um deles, também segue esperançosa pela recuperação de outro irmão, internado com Covid-19 em um hospital da cidade.

 

Manaus enfrenta colapso no sistema de saúde nos hospitais da cidade que estão lotados devido a um novo surto da Covid-19. Mais de 30 pacientes já foram transferidos a outros estados, mas a previsão do governo é enviar mais de 200, já que a capital sofre com falta de oxigênio suficiente para atender os hospitais.

 

Por conta da pandemia, a Prefeitura de Manaus decretou que, em caso de óbito por Covid-19, pode participar do cortejo só o veículo que conduza a urna funerária e um carro particular, com cerimônia de sepultamento limitada a três pessoas.

 

Devido as medidas de restrição, o irmão da vítima, Ezequias Sicsu, e outros familiares tiveram que acompanhar o enterro pelas grades do cemitério.

 

“Nós perdemos uma irmã por complicações da Covid-19 e temos um irmão internado que está em estado grave e inspira cuidados bem delicados. É algo terrível. Surreal o que estamos vivendo na nossa capital. Nem nos meus piores pesadelos pensei em viver um momento como esse”, disse.

 

Após a perda da irmã, Ezequiel comentou que a família ainda mantém a fé de que os médicos irão fazer o melhor trabalho para salvar a vida do irmão, de 50 anos, que ainda segue internado em um hospital particular da cidade.

 

“Nós vivemos um momento muito delicado. As pessoas não tem noção do que é esse vírus, do que ele faz. Ele dizima famílias. Nós estivemos na funerária e, só lá, estavam sendo veladas nove pessoas vítimas da Covid. Esse perigo é real e ele está presente”, comentou Ezequiel.

 

Com o cenário de colapso na saúde que o estado vive, Ezequiel fez um apelo para que as pessoas sigam as medidas de segurança e evitem que mais famílias percam parentes pela doença.

 

“Cuide dos seus. Talvez você não seja do grupo de risco, mas tem alguém na sua família que é. Hoje esse vírus tem uma variante, nós não sabemos. Torcemos pra que a vacina venha, porque é muito triste você ter que enterrar a família desse modo. Minha irmã desceu a sepultura praticamente sozinha. Meu irmão está sozinho. Essa doença é uma doença solitária”, lamentou.

 

Cemitérios lotados

 

Manaus registrou 213 enterros na sexta-feira (15) e bateu recorde de sepultamentos diários desde o início da pandemia da Covid-19. Desse total, 102 enterros tiveram a causa declarada como Covid-19. Com aumento da demanda, a Prefeitura de Manaus ampliou horário do funcionamento dos cemitérios até as 18h.

 

A última vez que Manaus teve tantos enterros, de causas em geral, foi em 26 de abril, com 140 registros (com dados apenas de espaços públicos). Na época, o estado enfrentava a primeira onda da doença, e sofreu colapsos no sistema público de saúde e funerário.

 

Duas câmaras frigoríficas foram instaladas no cemitério público Nossa Senhora Aparecida, conhecido como Cemitério do Tarumã. O objetivo é manter conservados os corpos de vítimas que morrerem nos horários em que os cemitérios estão fechados. As câmaras têm capacidade para armazenar até 60 caixões e começaram a ser utilizadas na quinta-feira (14).

G1

Notícias no seu email

Receba nossas notícias diretamente no seu email. Cadastre-se.

Newsletter