23/01/2021
Mulher negra é condenada a indenizar colega de trabalho que ela denunciou e processou por injúria racial
Uma mulher negra que processou um colega de trabalho por
injúria racial acaba de ser condenada pela Justiça a pagar a ele R$ 8 mil de
indenização por danos morais, por ficar com “pecha de racista” no ambiente de
trabalho. As informações são do UOL. Servidora da Defensoria Pública de São Paulo 2012, Ana
Theresa da Silva foi à 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo em março
de 2016 registrar um boletim de ocorrência contra dois de seus colegas. No inquérito, ana Theresa diz foi construída uma imagem de
“negra raivosa” sobre ela. Em dezembro de 2015, ela passou a ser constrangida
pelos colegas de trabalho que, segundo ela, não a respeitavam por conta da cor
da sua pele. “Eu não podia falar nada, mas tinham as piadas: falavam do
meu cabelo, das minhas roupas. Mesmo sendo um ambiente mais casual, eu me
preocupava com a aparência. Ia trabalhar de vestido, salto e maquiagem. Até
isso era motivo de zombaria. Eu tinha o apelido jocoso de ‘a doutora’. Não
respeitavam quem eu era”, disse Ana Theresa em entrevista ao UOL. Por três meses, ela ouviu piadas, deboches e tentativas de
diminuir seu trabalho. Eles chegavam a evitar cumprir etapas de processos que
envolviam seu trabalho. Ela foi transferida de setor, mas mesmo assim
continuava a passar por situações vexatórias, que chegaram a lhe causar
episódios de depressão e ansiedade. Foi quando ela decidiu registrar a
denúncia. “Passei muito tempo tendo de almoçar sozinha, isolada. As
pessoas tinham medo de serem vistas como alvo também, por estarem próximas a
mim. Virei a mulher raivosa, vingativa, que faz o boletim de ocorrência”, diz
Ana Theresa. Ela chegou a ser afastada do trabalho três vezes por
sintomas de ansiedade e depressão e episódio depressivo grave. No início de
2020, passou a tomar medicamentos psiquiátricos como tratamento. “Cheguei a subir em um prédio para me jogar, mas desisti.
Sabia que iriam abafar o caso se eu morresse. Quem foi estigmatizada, passou a
ter acompanhamento psicológico para se manter viva e viver com medicação
controlada fui eu. Ter pensamentos suicidas é um inferno, você não consegue se
livrar dessa dor. Eu amava viajar, o sol, estar com amigos. Tiraram tudo isso”,
conta. Em outubro de 2019, o inquérito foi arquivado a pedido do
Ministério Público e nenhum dos dois colegas foi punido. No ano passado, um
deles entrou com uma ação indenizatória e venceu em duas instâncias, na
primeira sendo estabelecido que Ana Theresa teria que pagarr R$ 20 mil de
indenização, na segunda instância o valor foi reduzido para R$ 8 mil.
O advogado de Ana Theresa, Hédio Silva Júnior, diz que houve
erros jurídicos no processo e que não há motivo para condenar alguém por pedir
investigação de ofensas sofridas no ambiente de trabalho. Ele irá recorrer ao
Supremo Tribunal Federal. Istoé
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