07/09/2021
Bolsonaro faz ameaça golpista ao STF em discurso para apoiadores em Brasília
BRASÍLIA, DF - Sem mencionar o Poder Judiciário, o
presidente Jair Bolsonaro fez uma ameaça ao presidente do Supremo Tribunal
Federal, ministro Luiz Fux, durante discurso para manifestantes nesta
terça-feira (7) em Brasília. Também sem citar os nomes dos dois ministros, ele disse que,
se Fux não enquadrar Alexandre de Moraes, "esse poder pode sofrer aquilo
que nós não queremos". Bolsonaro discursou em um carro de som ao lado do vice-presidente
Hamilton Mourão e dos ministros WBraga Netto (Defesa); Luiz Eduardo Ramos
(Secretaria-Geral da Presidência); Onyx Lorenzoni (Trabalho); Milton Ribeiro
(Educação); Fabio Faria (Comunicações); Anderson Torres (Justiça e Segurança);
João Roma (Cidadania); Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos);
Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Gilson Machado (Turismo) e Joaquim Leite
(Meio Ambiente). Ele falou para manifestantes que se deslocaram em ônibus de
várias partes do país a fim de participar da manifestação, convocada, entre
outros, pelo próprio Bolsonaro. No discurso, Bolsonaro atacou o ministro Alexandre de
Moraes, do STF — sem citar o nome do ministro. Alexandre de Moraes é
responsável pelo inquérito que investiga o financiamento e organização de atos
contra as instituições e a democracia e pelo qual já determinou prisões de
aliados do presidente e de militantes bolsonaristas. Bolsonaro é alvo de cinco
inquéritos no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral. De acordo com o presidente, "uma pessoa específica da
região dos três poderes" está "barbarizando" a população e
fazendo "prisões políticas", que, segundo afirmou, não se pode mais
aceitar. "Não podemos continuar aceitando que uma pessoa
específica da região dos três poderes continue barbarizando a nossa população.
Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse
poder enquadra o seu ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não
queremos", disse. Nas palavras de Bolsonaro, "o Supremo Tribunal Federal
perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal". "Nós todos aqui, sem exceção, somos aqueles que dirão
para onde o Brasil deverá ir. Temos em nossa bandeira escrito ordem e
progresso. É isso que nós queremos. Não queremos ruptura, não queremos brigar
com poder nenhum. Mas não podemos admitir que uma pessoa turve a nossa
democracia. Não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa
liberdade", declarou. Ele afirmou a manifestação foi um "comunicado", um
"ultimato" para os chefes dos poderes da República: "Esse
retrato que estamos vendo nesse dia não é de mim nem ninguém em cima desse
carro de vocês. Esse retrato é de vocês. É um comunicado, é um ultimato para
todos que estão na Praça dos Três Poderes, inclusive eu presidente da
República, para onde devemos ir." Conselho da República Bolsonaro disse que, nesta quarta-feira (8), participará de
uma reunião do Conselho da República com os presidentes dos demais poderes, a
fim de mostrar "para onde nós todos devemos ir". "Amanhã estarei no Conselho da República juntamente com
ministros para nós, juntamente com o presidente da Câmara [deputado Arthur
Lira], do Senado [senador Rodrigo Pacheco] e do Supremo Tribunal Federal
[ministro Luiz Fux], com essa fotografia de vocês, mostrar para onde nós todos
devemos ir", afirmou. Segundo informou o jornalista Valdo Cruz, colunista do G1 e
comentarista da GloboNews, os chefes dos demais poderes não foram comunicados
de reunião do Conselho da República nesta quarta-feira. Embora convidados, nenhum deles participou pela manhã, antes
do discurso de Bolsonaro na manifestação, da cerimônia de hasteamento da
bandeira, no Palácio da Alvorada, em comemoração ao Dia da Independência. O Conselho da República citado por Bolsonaro é um órgão de
consulta do presidente. Por definição, cabe ao conselho pronunciar-se sobre
“intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio” e também sobre “as
questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas”. Integram o conselho, comandando pelo presidente da
República, o vice-presidente; os presidentes da Câmara e do Senado; os líderes
da maioria e da minoria na Câmara e no Senado; o ministro da Justiça e também
seis cidadãos — dois escolhidos pela Câmara, dois pelo Senado e dois pelo
presidente. O conselho só se reúne por convocação do presidente da República. Ministros se
manifestam Os ministros do STF Luís Roberto Barroso e Alexandre de
Moraes fizeram publicações, em redes sociais, sobre o Dia da Independência. Logo após o pronunciamento de Bolsonaro, e sem responder
diretamente à fala do presidente, Alexandre de Moraes escreveu: "Nesse Sete de Setembro, comemoramos nossa
Independência, que garantiu nossa Liberdade e que somente se fortalece com
absoluto respeito a Democracia", escreveu o ministro. Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior
Eleitoral, e outro ministro alvo de ataques de Bolsonaro, fez uma publicação
antes do discurso do presidente.
"Brasil, uma paixão. Brancos, negros e indígenas. Civis
e militares. Liberais, conservadores e progressistas. Desde 88, a vontade do
povo: Collor, FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. Eleições livres, limpas e seguras.
O amor ao Brasil e à democracia nos une. Sem volta ao passado", afirmou
Barroso. G1, com foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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