27/01/2021
Governo Bolsonaro gasta R$ 15 milhões com leite condensado e R$ 2,2 milhões com chicletes e vira alvo de investigação no TCU
Na cena política nacional, o leite condensado ganhou
destaque recente como protagonista do peculiar café da manhã do presidente Jair
Bolsonaro. Desde a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro difunde o gosto
matinal pela combinação do pão francês com a mistura cremosa formada por leite
e açúcar. O produto se tornou um dos temas mais comentados do Twitter após o
site Metrópoles mostrar que a administração federal – o que inclui de
ministérios a autarquias – gastou mais de R$ 15 milhões em recursos públicos para
comprar o doce em 2020. O valor é, por exemplo, cinco vezes superior a tudo que o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) recebeu para fazer o
monitoramento por satélite de toda a Amazônia, Pantanal e demais regiões do
País – R$ 3,2 milhões no mesmo período, segundo dados levantados pela
consultoria Rubrica. Nos últimos dois anos, o Inpe – principal órgão federal
responsável pelas pesquisas espaciais e monitoramento –, o Ibama e o Instituto
Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) tiveram seus orçamentos reduzidos, o
que comprometeu a capacidade de o governo realizar ações estruturais de
proteção, fiscalização e combate do desmatamento nas florestas nacionais – a
Amazônia registrou volume recorde de queimadas no ano passado. Os gastos alimentícios do governo federal, que somaram mais
de R$ 1,8 bilhão em 2020, entraram na mira da oposição. Parlamentares
formalizaram uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a
abertura de investigação sobre as compras do Executivo. Segundo o site Metrópoles, o gasto global do Executivo
federal com alimentos e bebidas registrou um aumento de 20% em relação a 2019.
Neste total estão ainda despesas de cerca de R$ 2,2 milhões com chicletes e R$
32,7 milhões com pizza e refrigerante, por exemplo. No ranking de memes na internet, porém, nenhum gasto superou
a aquisição de leite condensado. O doce também era o mais buscado no serviço
que contabiliza as pesquisas diárias feitas no Google. ‘Supérfluo’ Em documento protocolado no TCU, o senador Alessandro Vieira
(Cidadania-SE) e os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni
(PSB-ES) argumentam que o aumento das despesas fere o princípio da moralidade
administrativa. “Em meio a uma grave crise econômica e sanitária, o aumento de
gastos é absolutamente preocupante, tanto pelo acréscimo de despesas como pelo
caráter supérfluo de muitos dos gêneros alimentícios mencionados”, diz um
trecho da representação. Representantes do PSOL, o deputado David Miranda (RJ) e as
deputadas Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bomfim (SP) e Vivi Reis (PA)
protocolaram uma ação para que o procurador-geral da República, Augusto Aras,
abra investigação sobre os gastos de R$ 1,8 bilhão. Nas redes, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) escreveu: “O
leite condensado do @jairbolsonaro. É a versão atual da elba do Collor.
Impeachment NELE!”, em uma referência ao caso do veículo Elba, pivô do processo
de impedimento do ex-presidente.
Procurado pela reportagem e questionado sobre os gastos com
alimentos, o governo federal não havia se manifestado até a conclusão desta
edição. Estadão
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