23/10/2021
Conselho de ética da Alesp notifica deputado que xingou o papa e Arcebispo para defender Bolsonaro
SÃO PAULO, SP - A Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo (Alesp) notificou na quinta-feira (21) o deputado que ofendeu o papa
Francisco para que apresente a sua defesa. A atitude foi tomada depois que a Conferência Nacional de
Bispos do Brasil (CNBB) e quatro representações de outros parlamentares
cobraram punição pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. A notificação ao deputado Frederico D'Ávila (PSL) foi enviada
pela também deputada Maria Lucia Amary (PSDB), presidente do Conselho de Ética. Pelo regimento do órgão, o deputado do PSL tem o prazo de
cinco sessões do plenário para apresentar sua defesa prévia, que começa a
contar nesta sexta-feira (22). Depois disso, Maria Lucia Amary vai convocar uma reunião do
Conselho de Ética para julgar a admissibilidade das representações apresentadas
pelos deputados Luiz Fernando (PT), Paulo Fiorilo (PT), Emídio de Souza (PT) em
conjunto com o Ataíde Teruel (PODE), e Carla Morando (PSDB) em conjunto com
Patricia Bezerra (PSDB) e Marcos Zerbini (PSDB). Um quinto pedido de punição foi apresentado pelo deputado
Raul Marcelo (PSOL), que ainda está sendo registrado. Entenda No feriado do último dia 12, o arcebispo de Aparecida, Dom
Orlando Brandes, afirmou durante a principal missa das comemorações no
santuário que "para ser pátria amada não pode ser pátria armada". No mesmo dia, em um discurso no plenário da Alesp, o
deputado Frederico D'Ávila fez referência a este discurso, chamou o Papa
Francisco de "vagabundo", o arcebispo de "vagabundo" e
safado", os religiosos de "pedófilos safados" e disse que a
Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) "é um câncer". Após o episódio, a instituição entregou à presidência da
Casa Legislativa uma carta cobrando punição ao deputado pelas agressões e
informando que também acionaria a Justiça contra o parlamentar. "Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo
Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom
Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão
parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias
competentes", dizia a carta. O presidente da Alesp, o deputado Carlão Pignatari (PSDB),
entendeu que a carta já configurava uma denúncia passível de análise por parte
do Conselho de Ética, para onde encaminhou o documento, e leu um pedido público
de desculpas em nome dos deputados paulistas à Igreja Católica. “Para o político, o dom da palavra é um direito inalienável,
mas que encontra limites no respeito pessoal e na própria lei. Não comporta,
portanto, a irresponsabilidade e o crime. Em nome do Parlamento paulista, eu
rogo um pedido expresso de desculpas ao Papa Francisco e a dom Orlando Brandes,
arcebispo de Aparecida, a quem empregamos nossa mais incondicional
solidariedade. A palavra não é arma para destruição. Ela é um dom. É
construção”, afirmou o presidente da Alesp. Depois da repercussão, o deputado Frederico D'Ávila publicou
uma carta em que pediu desculpas pela fala, argumentando que, naquele dia, “por
pouco, foi vítima de homicídio por um assaltante em frente à esposa e filhos na
cidade de São Paulo”. Quem é Frederico
D'Ávila? Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido),
Frederico D’ávila foi assessor especial do ex-governador de São Paulo Geraldo
Alckmin (PSDB) de 2011 a 2013. Ele chegou à Alesp em 2018, eleito com o apoio de entidades
do setor agrícola do estado, especialmente da Sociedade Rural Brasileira, da
qual foi conselheiro entre 2017 e 2020. D'Ávila costuma circular na Alesp sem máscara e já foi
flagrado pela reportagem do g1 sem a proteção no auge da segunda onda da Covid,
no início deste ano. Em 20 de novembro de 2019, D’Ávila apresentou um projeto na
Alesp para homenagear o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que, para ele
"foi, sem dúvida, o maior estadista sul-americano do século 20".
Augusto Pinochet foi responsável por uma das ditaduras mais
sangrentas da América Latina, que deixou mais de 40 mil mortos, segundo
relatório da Comissão Valech. g1, com foto: Reprodução
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