04/11/2021
Ouvido pela PF, Bolsonaro nega interferência na corporação para blindar familiares e amigos
BRASÍLIA, DF - A Polícia Federal tomou o depoimento do
presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura uma suposta tentativa de
interferir politicamente na corporação para blindar familiares e aliados de
investigações. O presidente disse que não interferiu na PF e que trocou o então
diretor-geral, Maurício Valeixo, no ano passado, por "falta de
interlocução". A demissão de Valeixo detonou a crise que levou à demissão
do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, em maio do ano passado. Valeixo é homem
de confiança de Moro e foi levado à direção da PF pelo ex-ministro. Quando
Bolsonaro pediu a substituição, Moro, responsável pela PF, tentou evitar a
troca, mas acabou pedindo demissão. No dia em que anunciou a saída do governo, Moro relatou, em
entrevista coletiva, que Bolsonaro tentava interferir politicamente na PF. Essa
declaração levou à abertura do inquérito. Bolsonaro foi ouvido na noite desta quarta-feira (3). No mês
passado, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu
prazo de 30 dias para a PF tomar presencialmente o depoimento do presidente. Agora, a PF divulgou o registro da oitiva de Bolsonaro. O
documento é uma transcrição da fala do presidente às autoridades
investigativas. "Que confirma que em meados de 2019 solicitou ao ex- ministro
Sergio Moro a troca do Diretor Geral da Polícia Federal (DPF) Valeixo, em razão
da falta de interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor
da Polícia Federal. Que não havia qualquer insatisfação ou falta de confiança
com o trabalho realizado pelo DPF Valeixo, apenas uma falta de
interlocução", registou a PF no depoimento de Bolsonaro. "Que nunca teve como intenção, com a alteração da
Direção Geral, obter informações privilegiadas de investigações sigilosas ou de
interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção diretamente de
relatórios produzidos pela Polícia Federal", continua o registro do
depoimento de Bolsonaro. De acordo com uma fonte ouvida pela TV Globo, Bolsonaro
respondeu a todas as perguntas que foram feitas no depoimento. Nota da defesa de
Moro Em nota divulgada na tarde desta quinta, a defesa do
ex-ministro disse que foi surpreendida pelo fato de Bolsonaro ter sido ouvido
no inquérito sem a presença dos advogados de Moro. A defesa disse ainda que, quando Moro prestou depoimento, no
ano passado, adovgados de Bolsonaro estavam presentes e puderam fazer
perguntas. “A defesa do ex-ministro Sérgio Moro foi surpreendida pela
notícia de que o presidente da República, investigado no Inquérito 4831,
prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa do ex-ministro fosse
intimada e comunicada previamente, impedindo seu comparecimento a fim de
formular questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do
depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado", afirmaram os
advogados. Inquérito O inquérito foi aberto pelo STF em abril do ano passado, a
pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) e tem como base acusações
feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Segundo Moro, Bolsonaro tentou
interferir em investigações da PF ao cobrar a troca do chefe da Polícia Federal
no Rio de Janeiro e ao exonerar o então diretor-geral da corporação Maurício
Valeixo, indicado por Moro. Bolsonaro nega ter tentado interferir na
corporação. Moro tem afirmado que estão entre as provas de que Bolsonaro
tentou interferir na PF mensagens trocadas pelos dois em um aplicativo e a
reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
Na ocasião, Bolsonaro disse: "Já tentei trocar gente da
segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu
não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu
não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à
estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder
trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para
brincadeira." g1, com foto: Marcos Corrêa/PR
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