05/11/2021
Jovem que morreu após tomar remédios para abortar comprou “kit aborto” por R$ 1,4 mil na internet
SOROCABA, SP - O laudo do Instituto Médico Legal (IML) não
conseguiu determinar a causa da morte da jovem que não resistiu após tentar
abortar aos 7 meses de gravidez, em Votorantim (SP), no final de outubro (leia
mais abaixo). Ana Carolina Pereira Pinto, de 20 anos, e o namorado, Kevin
Willians, de 22, haviam comprado um chamado "kit aborto" pela
internet por R$ 1,4 mil. Horas depois de ter aplicado injeções na barriga, a
jovem passou a reclamar de dor. Segundo apurado pelo g1, o IML apontou causa indeterminada
para a morte, e o laudo complementar toxicológico irá identificar as
substâncias no corpo de Ana Carolina e as dosagens aplicadas. Juntos, os exames
podem esclarecer a causa do óbito. Kevin Willians foi preso em flagrante e depois liberado – o
jovem está sendo investigado. A defesa disse que ele está colaborando com a
investigação e que irá se pronunciar sobre o caso, o que ainda não havia ocorrido
até a última atualização desta reportagem. A polícia tenta identificar quem vendeu do "kit
aborto". De acordo com o delegado José Antônio Proença Martins de Melo, a
pessoa pode ser responsabilizada por crime de aborto com o consentimento da
gestante. Ana Carolina morava com os pais, que não sabiam da gestação.
Ana Carolina e o namorado descobriram a gravidez um mês antes do aborto. 'Kit aborto' Segundo o relato do pai da jovem à polícia, a família estava
em casa quando decidiu pedir um lanche. A filha aparentava estar bem e disse
que estava em uma prova on-line da faculdade no quarto – a porta estava
fechada. A mulher não chegou a jantar. Por volta de 4h20, os pais acordaram para levar a filha para
pegar o ônibus que a levaria ao trabalho. Nesse momento, notaram que a jovem
não tinha acordado. Ela foi encontrada caída no quarto. O Samu foi chamado, mas a mulher já estava sem vida. Em
seguida, o namorado foi chamado e, ao chegar ao local, afirmou que ele e a
jovem tinham feito um procedimento, mas não revelou, até então, que seria uma
tentativa de aborto. À polícia, o pai confirmou que não sabia da gravidez e disse
que imaginou que a vítima tinha apenas engordado. Perguntado sobre o
comportamento da jovem, citou que ela não aparentava sentir dores. Investigação “A substância ainda é desconhecida e, com o resultado do
aborto, o vendedor pode ser responsabilizado pelo mesmo crime de aborto com o
consentimento da gestante. No caso, foi procurada a clandestinidade e havia o
medo, porque o caso viria à tona", afirmou delegado Martins de Melo. Não se sabe ainda exatamente como o casal comprou o produto.
Ainda segundo a polícia, podem existir outros crimes contra o fornecedor, se
for constatado medicamento estrangeiro e não autorizado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa). Interrogatório O namorado detalhou o ocorrido em um interrogatório à
Polícia Civil. Segundo o registro, o casal não estava brigado e mantinha um
relacionamento havia cerca de dois anos. Um mês atrás, Ana Carolina relatou que
estava com sintomas de gravidez. Os dois decidiram fazer um teste de farmácia,
que confirmou a gestação. Na época, Ana marcou uma ultrassonografia. Foi constatada a
gravidez de 27 semanas – o bebê era um menino. Durante uma conversa com o
namorado, a jovem citou receio de prosseguir com a gestação e como contaria à
família sobre o filho. Ambos chegaram ao consenso de não seguir com a gestação,
ainda com base no relato, por conta da idade e “pouca e experiência”. Segundo o namorado afirmou, a vítima teria feito pesquisas
sobre métodos abortivos. O rapaz relatou que chegou a falar sobre risco, mas
que ambos concordaram com a compra da substância abortiva, que foi realizada
pela vítima, no valor de R$ 1,4 mil, via PIX. A encomenda foi entregue na casa de Kevin. Os dois, então,
combinaram de achar um local para aplicarem o produto. O lugar escolhido foi
uma pousada no bairro Campolim, na Zona Sul de Sorocaba. O investigado detalhou que a vítima pegou as injeções e
disse que tinha medo de aplicar. Em seguida, pediu ajuda ao namorado. Ainda de
acordo com o relato, foram quatro aplicações na barriga. A "técnica"
sobre como injetar o medicamento, segundo o rapaz, foi explicada pela pessoa
que vendeu o produto à vítima. 'Minha barriga parece
que vai explodir' No dia seguinte, os dois foram trabalhar e, perto do fim do
turno, a jovem contou que sentia dores de cabeça e cólicas. Ainda segundo o
registro, os sintomas pioraram com o passar das horas, e surgiram dores no
estômago e vômitos. Em determinando momento, Ana teria dito ao namorado:
"minha barriga parece que vai explodir". Segundo o relato do namorado à polícia, a vítima o
questionou sobre pedir ajuda aos seus pais, e ele disse para manter a calma,
por achar que a situação não era grave. Assim, orientou a namorada para não
contar sobre o caso. De acordo com o documento, a vítima insistiu em falar sobre
o problema com a família, e o namorado continuou pedindo para que não o
fizesse. Os dois estavam preocupados com o dia seguinte de trabalho. Como eles entenderam que ela estava entrando em trabalho de
parto, Kevin sugeriu que namorada entrasse em contato com a pessoa que vendeu o
kit, em vez de ir ao hospital. Durante a conversa, sentindo dores, a vítima lhe
disse que a bolsa havia estourado, mas que não teve resposta da pessoa que
tinha vendido o material. Questionado sobre o momento que a vítima manifestou que
queria falar com os pais, Kevin disse que estava nervoso. Ao fim da noite,
conforme ele, os dois conversaram rapidamente, mas a vítima disse que não
poderia falar e que tentava dormir. Por volta das 4h do dia da morte de Ana, o namorado dela
recebeu uma ligação da sogra sobre a morte.
O rapaz foi preso em flagrante por crime contra a vida – no
caso, provocar aborto com o consentimento da gestante. g1, com foto: Reprodução/Redes Sociais
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