29/01/2021
Cargos para o “Centrão” por votos na eleição no Senado e na Câmara: Bolsonaro e Mourão trocam indiretas e críticas públicas
A última semana do mês de janeiro foi marcada por uma troca
de indiretas e críticas públicas entre o presidente da República, Jair
Bolsonaro, e seu vice, Hamilton Mourão. Apesar do segundo na linha de sucessão
afirmar ser "leal" ao mandatário, o clima entre os dois está bastante
tenso. Nesta quinta-feira (28), Bolsonaro desautorizou publicamente
Mourão de falar sobre uma possível reforma ministerial. As mudanças no primeiro
escalão estão sendo discutidas por conta do interesse do Planalto de interferir
nas eleições dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Cargos
estariam sendo oferecidos para os partidos do chamado "Centrão" em
troca de apoio para os candidatos apoiados pela Presidência. "Se alguém quiser escolher ministro, que se candidate
em 22 e boa sorte em 23", disse o presidente ao ser questionado por
apoiadores sobre a mudança no Ministério das Relações Exteriores. Mourão, um dia antes, tinha dado entrevista à "Rádio
Bandeirantes" afirmando que há debates para uma reformulação do governo e
disse que Ernesto Araújo pode ser substituído. Pouco antes, Bolsonaro foi mais direto e disse que "o
vice falou que eu estou para trocar o chefe do Itamaraty" e que "o
que nós menos precisamos é de palpiteiro no tocante a formação do meu
ministério". Mourão não quis comentar a frase do presidente. Impeachment Já nesta sexta-feira (29) foi publicada no Diário Oficial da
União a exoneração do assessor de Mourão, Ricardo Roesch, que essa semana
enviou mensagem a parlamentares falando sobre um possível impeachment de
Bolsonaro. Segundo revelou o site "O Antagonista", Roesch
enviou mensagens dizendo que era "bom estarmos preparados" para um
possível afastamento do presidente e que Mourão "dividiu a ala
militar". "Antes, [Augusto] Heleno dominava, agora estão
divididos - capitão [Bolsonaro] está errando muito na pandemia. General Mourão
é mais preparado e político. Você sabe disso", disse o assessor segundo
uma mensagem obtida pelo site. Após falar que a mensagem poderia ter sido enviada por um
hacker, o vice-presidente confirmou que seu assessor fez a conversa e disse que
"foi uma situação lamentável". "Número um, primeiro lugar porque eu não concordo com o
processo de impeachment, não apoio isso aí, acabou. A partir daí, a pessoa que
tinha cargo de confiança perde a confiança para exercer esse cargo.
Lamento", disse aos jornalistas. Com a pandemia de Covid-19 ainda descontrolada e a falta de
apoio do Planalto à vacinação - a presidência demorou para fechar contratos e
chegou a ignorar uma proposta da Pfizer -, a base aliada do presidente começou
a reclamar mais publicamente da gestão. Há ainda mais de 60 pedidos de impeachment, tanto de
partidos políticos como de entidades civis, contra Bolsonaro acusando o presidente
dos mais diversos crimes. Porém, o atual presidente da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia, se negou a dar andamento a abertura das ações.
Conforme o blog da jornalista Andréia Sadi, há um
"clima de conspiração" na relação entre presidente e vice por conta
de uma eventual construção de um impeachment. Segundo a apuração da repórter,
Bolsonaro não quer que Mourão seja seu vice na candidatura de 2022 e o militar
"passou a externar sua irritação por não participar mais do governo". ANSA
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