17/12/2021
PF diz que Bolsonaro atuou de forma “direta e relevante” para desinformar sobre sistema eleitoral
BRASÍLIA, DF - A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal
Federal (STF) que o presidente Jair Bolsonaro teve uma atuação "direta e
relevante" para gerar desinformação sobre o sistema eleitoral. A informação consta em relatório enviado ao Supremo, no dia
13 de setembro, no inquérito que apura fake news divulgadas pelo presidente
contra as urnas eletrônicas. Segundo a delegada da PF Denisse Ribeiro, Bolsonaro teria
aderido "a um padrão de atuação já empregado por integrantes de governos
de outros países". "Nesse aspecto específico, este inquérito permitiu
identificar a atuação direta e relevante do Exmo. Sr. Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro na promoção da ação de desinformação, aderindo a um
padrão de atuação já empregado por integrantes de governos de outros
países", diz a chefe do inquérito. Jair Bolsonaro lança dúvidas, sem qualquer prova, sobre o
sistema eleitoral brasileiro há mais de três anos. Em agosto, o presidente chamou a imprensa ao Palácio da
Alvorada para dizer que apresentaria provas das supostas falhas nas urnas mas,
em vez disso, repercutiu notícias falsas e vídeos já desmentidos. Na semana seguinte, Moraes decidiu incluir essa conduta no
inquérito sobre fake news que já tramita no STF. Bolsonaro aparece no inquérito
como investigado. Ao fim da apuração, a PF deve enviar o caso à
Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se denuncia os investigados
formalmente à Justiça. "Em resumo, a live presidencial foi realizada com o
nítido propósito de desinformar e de levar parcelas da população a erro quanto
à lisura do sistema de votação, questionando a correção dos atos dos agentes
públicos envolvidos no processo eleitoral (preparação, organização, eleição,
apuração e divulgação do resultado), ao mesmo tempo em que, ao promover a
desinformação, alimenta teorias que promovem fortalecimento dos laços que unem
seguidores de determinada ideologia dita conservado". Em agosto, Bolsonaro foi incluído como investigado no
inquérito das fake news. A apuração levará em conta os ataques, sem provas,
feitos pelo presidente às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral do país. Mesmo após ser eleito, Bolsonaro tem feito reiteradas
declarações nos últimos três anos colocando em dúvida a lisura do processo
eleitoral – todas, sem provas de fraudes ou de riscos às eleições do próximo
ano. No relatório, a PF cita que foi realizada uma reunião
prelimimar para preparar a live. O encontro reuniu material que foi utilizado
na fala do presidente. 'Busca consciente'
por dados tendenciosos Segundo a PF, os depoimentos tomados "permitiram
verificar que o processo de preparação e realização da live foi feita de
maneira enviesada, isto é, procedeu-se a uma busca consciente por dados que
reforçassem um discurso previamente tendente a apontar vulnerabilidades e/ou
possíveis fraudes no sistema eleitoral, ignorando deliberadamente a existência
de dados que se contrapunham a narrativa desejada, quase todos disponíveis em
fontes abertas ou de domínio de órgãos públicos". A PF diz que foram identificadas diversas inconsistências em
pontos relevantes das declarações. Foram ouvidos os ministros da Justiça,
Anderson Torres, da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, o
diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A delegada disse ainda que "convergem em apontar que
houve vontade livre e consciente dos envolvidos em promover, apoiar ou
subsidiar o processo de construção da narrativa baseada em premissas falsas ou
em dados desconstextualizados, divulgada na live do dia 29 de julho de
2021". A PF aponta que essa investigação se dá num contexto de
outras investigações que apontam que que canais bolsonaristas nas redes sociais
atuam com o objetivo de diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é
mentira. E usam como estratégia ataques aos veículos tradicionais de
informação. Esse método também foi aplicado na campanha contra as urnas
eletrônicas.
A PF identificou que os apoiadores do presidente Jair
Bolsonaro replicam uma estratégia de comunicação utilizada nas eleições de 2016
nos Estados Unidos, atribuída a Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump,
e também na eleição presidencial vencida por Bolsonaro. g1, com foto: Alan Santos/PR
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