20/12/2021

Plano de Saúde admite ao MP que “kit covid” distribuído a pacientes era ineficaz



SÃO PAULO, SP - A Prevent Senior divulgou um comunicado aos associados e à comunidade afirmando que não existe qualquer pesquisa científica que comprove a eficácia dos medicamentos do chamado "kit Covid", entre eles a cloroquina e a hidroxicloroquina. 

A divulgação está prevista no item 6 do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), feito pela Promotoria de Saúde do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), e homologado pelo Conselho Superior do MP (leia o item 6 mais abaixo). O documento também pediu que a operadora suspendesse a distribuição do kit Covid. 

Como a GloboNews revelou, a Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que participaram de um suposto estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19. A empresa é pivô de um dos maiores escândalos médicos da história do país. 

No comunicado, a Prevent diz que a divulgação da eficácia do "kit Covid" não correspondia "efetivamente a uma pesquisa científica, limitando-se a dados obtidos internamente para fins estatísticos, sem qualquer tipo de viés científico". 

A operadora afirma ainda que "não obteve autorização do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) para a realização de estudos científicos envolvendo a cloroquina e a hidroxicloroquina" e que não possui nenhuma pesquisa ou levantamento que "ateste a eficácia de algum tipo de medicamento" de forma preventiva ou precoce contra a Covid-19. 

O documento assinado com o MP prevê uma série de pedidos de mudanças para a operadora de saúde cumprir. A empresa se comprometeu ainda não distribuir mais o "kit Covid", composto por medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença, segundo a ciência. No termo foram listados como medicamentos pertencentes ao "kit Covid" cloroquina, hidroxicloroquina, flutamida, etarnecept, azitromiana, oseltamivir, ivernectina, nitazoxanida, colchicina, zrtzco, corticoides, vitaminas e anticoagulantes. 

O dossiê o qual a GloboNews teve acesso informa que a disseminação da suposta eficácia da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. 

A até então chamada "pesquisa" foi divulgada e enaltecida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), como exemplo de sucesso do uso da hidroxicloroquina . Ele postou resultados e não mencionou as mortes de pacientes que tomaram o medicamento. 

Em depoimento à CPI da Covid em setembro, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou que o plano de saúde tenha omitido dados sobre mortes de pacientes infectados com a Covid durante a realização do estudo. 

O diretor afirmou ainda que dois ex-funcionários “manipularam dados de uma planilha interna" para "tentar comprometer a operadora”. 

Reportagem da GloboNews teve acesso à planilha com os nomes e as informações de saúde de todos os participantes do estudo. Nove deles morreram durante a pesquisa, mas os autores só mencionaram duas mortes. 

Aos senadores, o diretor da Prevent Senior afirmou que os ex-funcionários “invadiram o sistema” e “adulteraram a planilha” de óbitos. “Esses profissionais, já desligados, passaram a acessar e a editar o referido arquivo culminando no compartilhamento da planilha com a advogada Bruna Morato em 28 de agosto”, afirmou Batista à CPI. 

Em março de 2020, a Prevent anunciou que começou a utilizar os medicamentos cloroquina e azitromicina para o tratamento de pacientes com coronavírus em estado grave.

g1, com foto: Pixabay

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