01/02/2022
Barroso diz que informações vazadas por Bolsonaro “facilitam ataques criminosos”
BRASÍLIA, DF - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta terça-feira (1º) que as informações
sigilosas vazadas pelo presidente Jair Bolsonaro "auxiliam milícias
digitais e hackers de todo o mundo". Segundo o ministro, "faltam
adjetivos para a atitude deliberada de facilitar ataques criminosos". Barroso fez a declaração em discurso na cerimônia virtual
que marcou a abertura dos trabalhos do tribunal neste ano. Participaram da
videoconferência os demais ministros do tribunal e o procurador-geral da
República, Augusto Aras. Em 4 de agosto do ano passado, o presidente divulgou nas
redes sociais a íntegra de um inquérito da Polícia Federal que apura suposto
ataque ao sistema interno do TSE em 2018 – e que, conforme o próprio tribunal,
não representou qualquer risco às eleições. O ato resultou na abertura de um
inquérito por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF). Para a Polícia Federal, há indícios de crime na conduta do
presidente. Barroso citou Bolsonaro no discurso no momento em que falava
sobre a comissão de transparência eleitoral criada para fiscalizar os testes
das urnas eletrônicas que serão utilizadas nas eleições deste ano. "Nós confiamos – porque precisamos confiar – na
integridade dos membros da comissão para cumprirem a palavra de manter sob
reserva as nossas conversas, para que não haja vazamentos indevidos. Sobretudo
em matéria de cibersegurança, o sigilo é imprescindível por motivos óbvios.
Ninguém fornece informações que possam facilitar ataques, invasões e outros
comportamentos delituosos", afirmou o presidente do TSE. Em seguida, fez a referência a Bolsonaro: "Tudo aqui é transparente, mas sem ingenuidades. Sempre
lembrando que informações sigilosas que foram fornecidas à Polícia Federal para
auxiliar uma investigação foram vazadas pelo próprio presidente da República em
redes sociais, divulgando dados que auxiliam milícias digitais e hackers de
todo o mundo que queiram tentar invadir nossos equipamentos. O presidente da
República vazou a estrutura interna da TI [tecnologia da informação] do
Tribunal Superior Eleitoral. Tivemos que tomar uma série de providências de
reforço da segurança cibernética dos nossos sistemas para nos protegermos.
Faltam adjetivos para qualificar a atitude deliberada de facilitar a exposição
do processo eleitoral brasileiro a ataques de criminosos", declarou
Barroso. Procurada pela TV Globo para se manifestar sobre as
declarações do ministro, a assessoria do Palácio do Planalto não respondeu. Voto impresso Barroso também criticou tentativas recentes de retomar a
discussão sobre o voto impresso – uma bandeira antiga de Jair Bolsonaro, que
nunca apresentou provas da suposta fragilidade no sistema eletrônico. "Não há qualquer sentido em se retomar a discussão sobre
o voto impresso com contagem pública manual para as eleições 2022, como voltou
a circular. Um retrocesso que já assombrou o país no ano passado, e que volta e
meia é ressuscitado", declarou o ministro. Em 2021, a Câmara rejeitou e arquivou um projeto que tentava
estabelecer a impressão do voto. Mesmo assim, Bolsonaro seguiu voltando ao tema
em declarações recentes. Segundo Barroso, além da decisão dos parlamentares, o
calendário eleitoral de 2022 impede que mudanças definidas a essa altura surtam
efeito na votação marcada para outubro. "Para a Justiça Eleitoral, já não daria tempo de
operacionalizar o desenvolvimento de um novo sistema, fazer o protótipo da
impressora – que não é uma urna pronta de balcão, mas é customizada para
garantir o sigilo. Não daria tempo para isso, não daria tempo para fazer a
licitação e produzir 500 mil impressoras", disse o presidente do TSE.
"Retomar essa discussão constituiria tão somente uma
tentativa deliberada de tumultuar o processo eleitoral. O país está precisando,
em meio a muitas coisas, de debate de ideias e não da repetição de
bobagens." g1, com foto: Divulgação/SCO/STF
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