09/02/2022
Vacinação é prioridade para o controle da pandemia da Covid-19, diz Fiocruz
RIO DE JANEIRO, RJ - Perto de completar dois anos, a
pandemia de covid-19 ainda apresenta cenário preocupante, com rápida
transmissão da variante Ômicron, e seu controle depende prioritariamente da
vacinação. A avaliação é de pesquisadores do Observatório Covid-19, da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), que divulgaram nesta quarta-feira (9) um balanço de
dois anos da emergência sanitária, que fez 5,71 milhões de vítimas no mundo e
mais de 630 mil no Brasil. Desde que os primeiros casos de covid-19 foram confirmados
na China, ainda em 2019, o novo coronavírus já infectou 388 milhões de pessoas
no mundo e 26 milhões no Brasil. O país concentra 6,7% do total de casos do
mundo e 11% do total de vítimas, apesar de os brasileiros serem menos de 3% da
população mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em 30 de
janeiro de 2020 que a covid-19 representava uma Emergência em Saúde Pública de
Importância Internacional, e passou a caracterizar a disseminação da doença
como uma pandemia, presente em todos os continentes, em 11 de março. Na época,
a doença já tinha chegado a 114 países e causado 4,2 mil mortes. No Brasil, o
Ministério da Saúde reconheceu a covid-19 como Emergência em Saúde Pública de
Importância Nacional em 3 de fevereiro. Janela de
oportunidade Os cientistas ressaltam que as demais medidas de prevenção
devem ser mantidas, mas consideram que atingir uma ampla cobertura vacinal
neste momento pode até mesmo bloquear a circulação do vírus, já que, com a
explosão de casos provocada pela variante Ômicron, há um grande contingente populacional
que teve covid-19 recentemente e adquiriu imunidade temporária contra o
SARS-CoV-2. "Em um momento em que há muitas pessoas imunes à
doença, se houver uma alta cobertura vacinal completa há a possibilidade de
tanto reduzir o número de casos, internações e óbitos, como bloquear a
circulação do vírus", diz o boletim, que afirma que este cenário pode ser
visto como uma "janela de oportunidade". A Fiocruz sugere que, nesse sentido, é essencial implementar
quatro estratégias de saúde pública: garantir oportunidade de aplicação de
vacina, com a disponibilidade em unidades com horário de funcionamento
expandido e em postos móveis; realizar busca ativa por pessoas que ainda não
iniciaram seus esquemas vacinais; massificar a campanha de incentivo à vacinação
de crianças e reforçar os benefícios gerados pela correta higienização, assim
como o bom uso de máscaras. Os pesquisadores também chamam a atenção para a desigualdade
na cobertura vacinal no país, com áreas das regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste em que há bolsões com baixa imunização. "Estes bolsões se
constituem em locais de menor Índice de Desenvolvimento Humano, populações mais
jovens, menos escolarizadas, baixa renda e residentes de cidades de pequeno
porte. Para estes locais, o fim da pandemia parece mais distante que para
grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que já apresentam elevada
cobertura vacinal com duas doses". A fundação avalia que a desigualdade regional nas coberturas
vacinais expõe problemas de base, como acesso geográfico, logística de
distribuição, armazenamento, gestão de estoques e velocidade na informação. O
boletim considera que a falta de uma ampla campanha de comunicação para
sustentar os benefícios das vacinas e das medidas não farmacológicas se mostrou
muito prejudicial. "Em meio à pandemia, problemas que deveriam ter sido
enfrentados antes, para trazer mais equidade e eficiência no processo de
imunização, podem tornar populações com baixa taxa de cobertura mais
vulneráveis e permitir o surgimento de novas variantes, como observado em áreas
mais pobres do continente africano”. Endemia Os cientistas discutem no balanço de dois anos que a grande
onda de casos causada pela variante Ômicron, que é 70 vezes mais transmissível
que a Delta, tem gerado especulações sobre um possível fim da pandemia. Alguns
países e agências de saúde já debatem ou põem em prática mudanças que
representam a transição para uma endemia, o que caracterizaria a covid-19 como
uma doença presente no cotidiano. O boletim ressalta, no entanto, que a mudança não
significaria o fim das medidas de proteção individual ou coletivas. "A
classificação da doença como endêmica representaria a incorporação de práticas
sociais e assistenciais na rotina do cidadão e dos serviços de saúde e só
poderia ser pensada após drástica redução da transmissão pelas novas variantes
e por meio de campanha mundial de vacinação", afirma o texto. Ao fazer um balanço de dois anos, o boletim da Fiocruz
descreve cada uma das fases da pandemia no Brasil. A disseminação da doença no
país, além de provocar milhares de mortes e sobrecarregar os sistemas de saúde,
resultou em uma combinação de efeitos sociais e econômicos que agravam as
desigualdades estruturais da sociedade, avalia a fundação. O momento atual, classificado como terceira onda, teve
início em dezembro de 2021, coincidindo com uma epidemia de Influenza A (gripe)
em vários municípios, com um período de festas, férias, relaxamento de medidas
de restrição à mobilidade e ainda com a introdução no país da variante Ômicron. "Em que pese o fato de a vacinação ter impedido que as
internações e óbitos subam em igual velocidade aos casos, o aumento súbito de
doentes faz crescer, inevitavelmente, a demanda por serviços de saúde, com
impactos nas taxas de ocupação de leitos de UTI", apontam os
pesquisadores.
Segundo a Fiocruz, o cenário atual indica ocorrência de
internações maior entre idosos, quando comparadas aos adultos, e níveis
preocupantes de crescimento nas internações de crianças. "Por se tratar do
último grupo em que a vacinação foi iniciada, já em 2022, as crianças
representam hoje o grupo com maior vulnerabilidade", afirmam pesquisadores. Agência Brasil, com foto: Kleide Teixeira/Secom-JP
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