19/05/2022
Jovem gravou o pai dizendo que só compraria uniforme escolar para ela se pudesse estuprá-la
BELO HORIZONTE, MG - Um homem, de 48 anos, foi preso pela
Polícia Civil nesta quarta-feira (18), quando é lembrado o Dia Nacional de
Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O mandado de
prisão preventiva só foi deferido pela Justiça cerca de 12 anos após a vítima
procurar a polícia. "Os abusos começaram quando eu tinha uns 3 anos, tinha
um shortinho vermelho e listrado e lembro dele esfregando as partes íntimas em
mim. Quando eu entrei na adolescência, precisava de um uniforme escolar e meu
pai disse que só compraria se eu deixasse ele me chupar". As lembranças ainda são vivas na cabeça de Mariana, de 25
anos, que foi abusada por cerca de dez anos pelo próprio pai no bairro Ouro
Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Até os 3 anos, Mariana, que é filha única, morou com a avó
materna porque, segundo ela, o suspeito não gostava de choro de criança. Depois
dessa idade, quando ela foi morar com os pais, os abusos de uma década
começaram. A mãe fazia faxinas na casa de uma família e, sempre que ela saía, o
pai avançava. "Meu pai trabalhava em obra e ficava comigo quando
minha mãe saía para trabalhar. Ele entrava no meu quarto e cometia os abusos.
Cheirava as minhas calcinhas, beijava a minha boca. Fui crescendo e vendo que
aquilo não estava certo. E ele sempre dizia que eu não podia contar porque
minha mãe e eu não conseguiríamos viver sem ele pela questão financeira",
disse a jovem. Desabafo com a mãe e
gravação No dia em que o homem falou que só compraria o uniforme após
os abusos, Mariana tomou coragem e contou para a mãe o que estava acontecendo. "Minha mãe pediu para eu gravar, ele repetiu isso e
fomos à delegacia. Depois da denúncia, meu pai se recusou a sair de casa e fui
morar novamente com minha avó. Depois de alguns meses, ele saiu e voltei para
ficar com a minha mãe", contou. Durante todos esses anos, Mariana não conversou com o homem.
Em janeiro deste ano, ela conseguiu uma medida protetiva após o pai se mudar
para a mesma rua em que ela mora. O suspeito foi preso na madrugada desta quarta no momento em
que saía de casa para trabalhar. "Eu agradeço demais à equipe da delegada Larissa, que
fez a prisão hoje. Desde o início deste ano faço acompanhamento com psicólogo,
o que ele fez me deixou marcada, não confio mais em ninguém. A pessoa em que eu
poderia confiar me decepcionou. Poxa, ele é o meu pai. Ele fez isso comigo. O
meu pai", finalizou. Homem foi indiciado
após investigação De acordo com a Polícia Civil, após a jovem ter registrado a
denúncia contra o pai - ainda adolescente - todos os procedimentos foram
realizados. "Foi colhido o relato dela, da mãe, foram realizadas
diligências, perícia na gravação apresentada. Naquele momento não tinham
requisitos para efetuar a prisão dele, mas as investigações foram realizadas,
ele foi indiciado e virou procedimento criminal", explicou a delegada
Renata Ribeiro, chefe da Divisão Especializada em Atendimento à Mulher ao Idoso
e a Pessoa com Deficiência e Vítimas de Intolerâncias Durante a prisão
nesta quarta, o homem negou os abusos sexuais. "Ele negou também que tenha ameaçado a vítima, que
estivesse rondando a casa dela. No entanto, admitiu que estava morando próximo
à casa da filha e já tinha tomado conhecimento, há cerca de um mês, da medida
protetiva", contou a delegada Larissa Mascotte, que efetuou a prisão do
suspeito. Alerta As delegadas alertam para que pais e responsáveis fiquem
atentos ao comportamento de crianças e adolescentes. "É necessário ficar vigilante, orientar e conversar com
crianças e adolescentes. E eles não devem ter medo de contar o que
acontece", afirmou a delegada Renata. Denúncias de abusos contra crianças e adolescentes podem ser
realizadas na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente,
localizada na avenida Nossa Senhora de Fátima, 2175, no bairro Carlos Prates,
em Belo Horizonte. As denúncias também podem ser feitas também pelo Disque 100.
O denunciante não precisa se identificar pela ligação.
O g1 Minas procurou a Justiça para questionar por que
demorou 12 anos para o deferimento do mandado de prisão preventiva do homem, e
aguarda retorno. g1, com foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
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