16/06/2022

Entrevista: Bolsonaro volta a admitir que pode haver corrupção em seu governo



BRASÍLIA, DF - O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a admitir nesta quarta-feira a possibilidade de haver corrupção em seu governo por meio de desvios de verbas dos ministérios, mas, segundo ele, isso não está sob seu controle. O chefe do Executivo afirmou não ser possível acompanhar todos os envios de dinheiro às ações das pastas. 

“Pode ocorrer (corrupção)? Pode. São 23 ministérios, são dezenas de secretários, só o Ministério do Desenvolvimento Regional tem mais de 20 mil obras pelo Brasil. O Tarcísio (Freitas, ex-ministro da Infraestrutura) tem umas 300 (obras). O Ministério do Turismo tem umas mil obras, pode haver algo errado? Pode”, afirmou em entrevista à jornalista Leda Nagle. 

Bolsonaro disse que o Ministério da Saúde tem movimentação diária de R$ 500 milhões. “Vai dinheiro para tudo quanto é lugar. Pode haver coisa errada? Pode”, reforçou. “O Ministério da Educação é uma coisa gigantesca, pode ocorrer algo de errado? Pode”, continuou. Mas, de acordo com o presidente, há controle intermediado por equipes compostas pela Polícia Federal (PF), Receita Federal, Controladoria-Geral da União (CGU) e outros “que fazem um filtro desses contratos. A gente analisa o tempo todo”. 

Durante a entrevista, Bolsonaro associou a anulação do processo judicial do ex-presidente Lula a uma decisão única e exclusiva do ministro Edson Fachin, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Não existe mais lei no Brasil por parte do Supremo Tribunal Federal. É uma obsessão por tentar me tirar daqui, ou me fazer inelegível, ou me fazer perder as eleições”, declarou. “Os ministros do STF não sabem o que é o povo da rua aqui fora”, afirmou. 

Vice 

Sem declarar publicamente quem será seu companheiro de chapa para a tentativa de reeleição, Bolsonaro afirmou na entrevista que a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina e o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto estão "cotadíssimos" para ocupara o cargo. "Eu nem falei que o Braga Netto é meu vice, como é que vou trocar? Vou trocar de esposa se nem casei ainda? Braga Netto teve uma passagem marcante pelo Rio de Janeiro, na intervenção. Fez um trabalho excepcional comigo aqui, um ministério difícil. É cotadíssimo (para vice)”, afirmou. 

Sobre Tereza Cristina, o presidente disse ser "excelente nome" e com "poder de articulação". "Cotadíssima, excelente pessoa também, excelente pessoa. Querem fazer uma briga aí, homem e mulher. Vão querer falar que eu prefiro não uma mulher, mas um homem. Ou então tumultuar”, comentou. 

Os dois deixaram seus cargos como ministros para concorrer a cargos eletivos no pleito de 2022: Tereza, um nome indicado ao Senado pelo Mato Grosso, e Braga Netto, que agora ocupa o cargo de assessor especial da Presidência da República. Ambos estão aptos a ingressar em uma chapa com o presidente. “Tereza Cristina é um nome excepcional para o Senado, como é excepcional para ser vice também, pelo seu poder de articulação. Mas não está batido o martelo sobre o nome dela nem sobre o Braga Netto”, reforçou Bolsonaro. 

Na entrevista, Bolsonaro comentou também sobre o situação do blogueiro foragido Allan dos Santos. Ele afirmou que, se tivesse se encontrado com o blogueiro em sua passagem pelos EUA, teria apertado a mão dele. “O pessoal me processa por tudo, tudo é notícia-crime. Um parlamentar me processando porque eu vi o Allan dos Santos nos EUA. Olha, eu não vi ele, se eu tivesse visto, teria apertado a mão dele. Jamais ia denunciar. Ele não cometeu nenhum crime. Para o Alexandre de Moraes, ele é criminoso. Para mim ele não é, ponto final”, disse. 

No sábado,  Bolsonaro discursou para uma plateia de evangélicos na Igreja da Lagoinha, em Orlando. Nas primeiras fileiras do evento estava Allan dos Santos, que tem o mandado de prisão preventiva decretada no Brasil. Santos publicou vídeos em suas redes sociais marcando presença na igreja e na motociata de que o presidente participou em seguida ao culto evangélico. Nas imagens, Santos segue fazendo ofensas e provocações a Alexandre de Moraes.

Correio Braziliense, com foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

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