12/02/2021
A exemplo de Lula, Bolsonaro diz que pedirá acesso a mensagens vazadas da Lava Jato envolvendo Moro e procuradores
Em uma mudança de postura, o presidente Jair Bolsonaro
afirmou nesta sexta-feira, 12, que pedirá para ter acesso a mensagens
envolvendo o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato que foram vazadas
por hackers. O presidente disse ter sido informado que seu nome aparece nas
conversas e, por isso, também tem direito a conhecer o que foi tratado. Em
2019, quando o conteúdo começou a ser divulgado e Moro ainda era seu ministro
da Justiça, Bolsonaro chegou a colocar em dúvida a veracidade das mensagens, em
apoio ao aliado. “Mandei pedir aquela matéria hackeada que está na mão do PT,
na mão do (ex-presidente) Lula. Tem meu nome lá. Alguma coisa já passaram para
mim. Vocês vão cair para trás”, afirmou Bolsonaro a apoiadores pela manhã no
Palácio da Alvorada. “Você vê a perseguição ali, conversas de autoridades falando
como é que entravam na minha vida financeira, da minha família. Você pode
entrar, mas tem que ter uma ordem judicial. Respeita a lei? Não respeita. Eu
quero pegar o cara que vendia informações. Dentro do Coaf (Conselho de Controle
de Atividades Financeiras), por exemplo. Eu já tenho alguma coisa, que tem
chegado para mim, agora vou conseguir. Espero que o Supremo me dê”, disse o
presidente. As mensagens hackeadas foram reveladas em junho de 2019 pelo
site The Intercept Brasil. Pouco mais de dois meses depois, a Polícia Federal
prendeu um grupo de hackers responsáveis pelo vazamento e descobriu que os
ataques virtuais também tinham como alvo integrantes da cúpula da República,
incluindo Bolsonaro. Nenhuma conversa do presidente, porém, chegou a ser
divulgada. “O que conseguiram contra eu, Jair Bolsonaro? Não tem nada,
pô. Agora ficam em cima de filho, em cima de esposa, de parente, amigo,
advogado que advogava para mim”, afirmou o presidente, citando decisão do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que considerou irregular um
relatório do Coaf sobre Frederick Wasseff, ex-defensor do senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ). Foi com base em um outro relatório do Coaf, sobre
movimentações atípicas do ex-assessor Fabrício Queiróz, que o Ministério
Público iniciou a investigação em qual acusa Flávio de comandar um esquema de
“rachadinha” quando era deputado estadual no Rio de Janeiro. O documento foi
revelado pelo Estadão em dezembro de 2018. Operação Lava Jato As mensagens hackeadas de Moro e procuradores indicam
possível interferência do então magistrado nas investigações da Lava Jato,
orientando os procuradores sobre estratégias ao longo da operação que levou à
prisão de Lula e outras dezenas de políticos e empresários. Os ex-juiz e os
procuradores afirmam não reconhecer as conversas reveladas e argumentam que
elas foram obtidas por meio de um crime, após hackers invadirem seus telefones.
Parte do conteúdo, que soma cerca de 7 terabytes de
informação, está sob sigilo. Na terça-feira, a Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal garantiu à defesa de Lula o acesso às mensagens relacionadas à
Lava Jato. O julgamento foi considerado uma espécie de "prévia" de
outro julgamento que deve ocorrer ainda no primeiro semestre, de um recurso em
que o ex-presidente acusa Moro de parcialidade ao condená-lo. Estadão
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