18/07/2022
Delegada diz que morte de tesoureiro do PT não foi crime político porque discussão política foi antes do assassinato
FOZ DO IGUAÇÚ, PR - Uma vigilante afirmou em depoimento que
ouviu o policial penal Jorge Guaranho gritar "aqui é Bolsonaro" pouco
antes de atirar contra o tesoureiro do PT Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, no
oeste do Paraná. Daniele Lima dos Santos, que trabalhava na região da
associação na noite em que o crime aconteceu, relatou à Polícia Civil que logo
após os gritos de Guaranho pôde ouvir vários tiros. O crime aconteceu em 9 de julho. Marcelo Arruda foi baleado
na própria festa de aniversário, que tinha como tema o PT e o ex-presidente
Lula. Ao ser atingido por Guaranho, o petista, que também estava armado,
revidou e atingiu o policial. Arruda chegou a ser levado ao Hospital Municipal, mas não
resistiu aos ferimentos e morreu. Jorge Guaranho segue internado no hospital,
sem previsão de alta. Na sexta-feira (15), ele foi indiciado por homicídio
qualificado por motivo torpe. A delegada Camila Cecconello disse que Guaranho atirou
contra Marcelo por ter se sentindo ofendido, já que o petista jogou um punhado
de terra e pedra contra o carro dele, após provocação política. Entretanto, a
delegada afirma que a morte não foi provocada por motivo político, por ter
entendido que os disparos tenham sido feitos em um segundo momento, após a
escalada da discussão. Leia mais sobre o inquérito abaixo. O depoimento da vigilante, entretanto, mostra que Guaranho
gritou "Aqui é Bolsonaro" também nesse segundo momento. Conforme o documento, Daniele disse que no dia do crime
estava fazendo vigilância na região quando viu um carro entrando na sede da
Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, na Vila A, com Jorge Guaranho e uma
mulher dentro. "Ela relatou que prosseguiu com a ronda na rua e,
então, avistou este veículo saindo bruscamente do local, o que causou
estranheza. Disse que após certo tempo viu o mesmo veículo se aproximando em
alta velocidade, sendo que teve que jogar sua motocicleta para o lado, pois
percebeu que o condutor do automóvel não iria parar", diz o relatório. Daniele informou, ainda, que o motorista, ao voltar, entrou
rapidamente na associação com o carro e que pode ouvir ele dizendo "aqui e
Bolsonaro" novamente, além de palavras de baixo calão. "Disse que, logo em seguida, ela passou a ouvir vários
disparos de arma de fogo. Afirmou que o condutor do veículo vinha em direção à
depoente e que se ela não tivesse jogado a motocicleta para a lateral, ele
teria a acertado", conforme documento. O depoimento da vigilante consta no relatório final da
Polícia Civil do Paraná (PC-PR). Questionada pela polícia se chegou a ouvir alguma música
vinda do interior do carro de Guaranho, a vigilante disse que não. "Disse que a esposa do condutor, que foi visualizada na
primeira vez que o veículo entrou na associação, aparentava estar
assustada". Inquérito A delegada Camila Cecconello avaliou que Guaranho não
planejou o crime, uma vez que recebeu a informação da festa de Marcelo enquanto
participava de churrasco com amigos, e foi até o local para fazer uma
provocação, retornando pela segunda vez por ter se sentido ofendido, segundo as
investigações. "Segundo os depoimentos, que é o que temos nos autos,
ele voltou porque se sentiu ofendido com essa escalada da discussão, com esse
acirramento da discussão entre os dois", disse Camila. Para Camila, para se enquadrar em motivação política, seria
necessário identificar um desejo de Guaranho em impedir os direitos políticos
de Marcelo, o que, para ela, seria "complicado de dizer". Sobre a conclusão da Polícia Civil, o advogado Ian Vargas,
da equipe de defesa da família de Marcelo, disse que inquéritos de casos
complexos como este levam mais tempo. "Normalmente leva um tempo esses inquéritos.
Principalmente desta magnitude, com essa complexidade, com essa quantidade de
pessoas que foram ouvidas e provas a serem colhidas como pericias de celular,
computador, veículo, câmeras de outros locais". O advogado Carlos Bento, que integra a equipe da defesa de
Guaranho, disse que o inquérito pode ter terminado aos olhos da policia, mas
que para a defesa, "está iniciando". "Foram ouvidas testemunhas que a defesa não teve
acesso. São testemunhas que estavam na festa. São testemunhas que certamente
são amigos da suposta vítima". Como tudo aconteceu,
segundo a polícia A delegada informou que Guaranho foi até o local do
aniversário com o objetivo de fazer uma provocação. Testemunhas disseram que o policial penal chegou em um carro
com a mulher e um bebê. Além disso, o carro do atirador tocava uma música de
apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Após isso, uma discussão se iniciou. A delegada afirmou que
testemunhas relataram que Marcelo jogou um punhado de terra contra o veículo de
Guaranho. Depois da discussão, o policial deixou o local. A Polícia Civil concluiu, com base nos depoimentos, que
Guaranho retornou ao local do aniversário por ter se sentido humilhado. Ao
retornar ao aniversário, o porteiro da associação tentou impedir que ele
entrasse no local a pedido dos participantes da festa. De acordo com a análise das imagens, a discussão evoluiu na
seguinte sequência: Camila afirmou que Guaranho fez quatro disparos, dos quais
dois atingiram Marcelo. Por outro lado, o petista atirou 10 vezes, acertando
quatro tiros contra o policial. Além disso, o inquérito aponta que Marcelo tinha se armado
para se defender, sabendo do provável retorno de Guaranho. "A vítima pega a sua arma de fogo como proteção de um
eventual retorno do autor. E a vítima aponta a arma de fogo quando vê a volta
do autor, porque já sabia que o autor estava armado. Então, é uma atitude
natural da vítima querer se defender". Antes da discussão Segundo a Polícia Civil, o policial penal estava em um
churrasco, quando ficou sabendo que a festa de Marcelo estava acontecendo. Segundo as investigações, o atirador tomou conhecimento por
meio de uma outra pessoa que estava no churrasco e tinha acesso às imagens de
câmera de segurança da associação onde o aniversário de Marcelo estava
acontecendo. Em seguida, de acordo com a delegada, Guaranho não fez
comentários a respeito da festa. Apesar disso, o policial penal deixou o
churrasco onde estava e foi para o local onde era realizado o aniversário de
Marcelo. Agressões A delegada Iane Cardoso informou ainda que um inquérito
também foi aberto para apurar as agressões que Jorge Guaranho sofreu após
atirar contra Marcelo Arruda. Três pessoas são investigadas pelo caso.
Camila Cecconello disse que a polícia também aguarda um
laudo pericial para determinar a gravidade das agressões sofridas por Guaranho. g1, com fotos: Reprodução
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