17/02/2021
Parlamentares tentam derrubar decretos de Bolsonaro que facilitam acesso a armas; até aliados do governo resistem às mudanças
Decretos do presidente Jair Bolsonaro para facilitar acesso
às armas no país encontram resistência no Congresso Nacional. Até aliados do
governo federal resistem às mudanças. A senadora Eliziane Gama, do Cidadania, protocolou quatro
projetos de decreto legislativo para derrubar os decretos do presidente Jair
Bolsonaro que facilitam o acesso a armas de fogo. “É absolutamente irresponsável promover um derrame de armas
como o proposto pelo governo na sociedade brasileira. O resultado disso,
infelizmente, será um país mais violento e com mais inocentes morrendo. Nós
vamos fazer uma frente ampla, reunindo inclusive parlamentares da base do
governo, para derrubar esses projetos no Congresso Nacional. A hora é de se
pensar em vacinas para o Brasil, e não em armas”, afirma Eliziane Gama. Outros parlamentares, como o deputado Daniel Coelho, do
Cidadania, e Marcelo Freixo, do PSOL, disseram que também vão apresentar
projetos de decreto legislativo para derrubar a iniciativa de Bolsonaro. A
oposição também quer ir ao Supremo Tribunal Federal para questionar a
competência de Bolsonaro para mudar regras sobre acesso a armas de fogo sem
passar pelo Congresso. Os quatro decretos assinados por Bolsonaro foram publicados
na noite desta sexta-feira (12), véspera do sábado de carnaval, e mudam várias
regras publicadas em anos anteriores, como o Estatuto de Desarmamento, para
facilitar o acesso a armas. Entre as principais mudanças, aumentam de quatro para seis a
quantidade de armas que uma pessoa com registro poderá comprar. De mil para 2
mil a quantidade de munição que atiradores e caçadores podem comprar por ano
para armas de uso restrito. Um dos decretos permite que atiradores comprem até 60 armas
e caçadores até 30, sem necessidade de autorização expressa do comando do
Exército. Hoje, a regra para compra exige essa autorização. Com a mudança, ela
só será necessária se ultrapassar essa quantidade. O porte de arma, o direito de circular e carregar a arma
fora de casa, também foi facilitado. Quem tiver o porte poderá ter até duas
armas em trânsito ao mesmo tempo. Antes não havia menção a isso. Os decretos
presidenciais passam a valer 60 dias após a publicação. Especialistas em violência e segurança pública dizem que
essas mudanças podem provocar um aumento na criminalidade e até no número de
homicídios. Agora cabe aos presidentes da Câmara e do Senado a decisão de
pautar esse assunto no plenário para a discussão dos parlamentares. No domingo passado, o vice-presidente da Câmara, Marcelo
Ramos, do PL, disse que considera que Bolsonaro invadiu a competência do
Congresso ao editar os decretos, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira, não
vê a questão da mesma maneira. Nesta segunda (15), ele disse ao blog da jornalista Andréia
Sadi que Bolsonaro não invadiu competência, não extrapolou limites já que, na
sua visão, modificou decretos já existentes. "É prerrogativa do
presidente. Pode ter superlativado na questão das duas armas para porte, mas
isso pode ser corrigido”. O senador Major Olímpio, líder do PSL, defendeu os decretos
do presidente: “Os quatro decretos presidenciais em nada vão colaborar com a
criminalidade ou para que criminosos tenham acesso a armas de fogo. Temos uma
plena capacidade do Estado brasileiro em retirar as armas ilegais em
circulação. Os decretos apenas flexibilizam burocracias, mas em nada estão
extrapolando o conteúdo que já é legislação sobre posse e porte de arma de fogo
no Brasil”. Mas os decretos do presidente receberam críticas até de
parlamentares de partidos que apoiam o governo, como Fábio Trad, do PSD. “Presidente da república não é eleito para legislar sobre
armas. Essa é uma questão que afeta o Poder Legislativo. É falacioso o
argumento de que o presidente apenas regulamentou decretos anteriores, uma vez
que nos novos decretos houve inovações materiais que alteraram substancialmente
o conteúdo do tema”, destaca Trad.
A Frente Nacional de Prefeitos também marcou posição contra
medidas que facilitam o acesso a armas nesse momento de pico da pandemia no
Brasil: “A Frente Nacional de Prefeitos reitera que não é momento para discutir
e avançar com a pauta de costumes ou regramento sobre aquisição de armas e
munições. Isso é um desrespeito com a história dos mais de 239 mil mortos e uma
grave desconsideração com a população. Prefeitas e prefeitos reafirmam que a
prioridade do país precisa ser, de forma inequívoca, a vacinação em massa”. JN
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