19/01/2023
Lula diz que inteligência militar não alertou sobre tentativa de golpe: “houve conivência”
BRASÍLIA, DF - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
afirmou, em entrevista ao canal de notícias Globonews, que houve uma falha dos
serviços de inteligência do governo que não alertaram sobre os atos golpistas
em Brasília no dia 8 de janeiro. "Aqui nós temos inteligência do Exército, nós temos
inteligência do GSI [Gabinete de Seguraça Institucional], nós temos
inteligência da Marinha, nós temos inteligência da Aeronáutica, ou seja, a
verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da
República que poderia ter acontecido isso", afirmou. A entrevista
exclusiva, primeira do tipo desde que Lula assumiu seu terceiro mandato, foi
veiculada nesta quarta-feira (18). "Se eu soubesse, na sexta-feira (6), que viriam 8 mil
pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília. Eu não teria. Eu saí porque
estava tudo muito tranquilo, até porque a gente estava vivendo ainda a alegria
da posse", acrescentou. Tentativa de golpe O presidente também relembrou os momentos de tensão com a
invasão do Palácio do Planalto, das sedes do Congresso Nacional e do Supremo
Tribunal Federal (STF). Ele disse que tinha a impressão de estar havendo uma
tentativa efetiva de golpe de Estado no país. No dia, ele estava em Araraquara
(SP) e assistiu aos desdobramentos dos fatos da cidade paulista. Para o
presidente, houve conivência de gente das Forças Armadas na ação dos vândalos. "Eu fui ficando irritado porque não era possível a
facilidade com que as pessoas invadiram o Palácio do Presidente da República,
e, na verdade, eles não quebraram para entrar, eles entraram porque a porta
estava aberta, alguém de dentro do Palácio abriu a porta para eles, só pode ter
sido, houve conivência de alguém que estava aqui dentro", afirmou. União democrática O fracasso do intento golpista, para Lula, ocorreu porque
houve reação democrata forte. "Eles perceberam que houve uma reação,
imediatamente eu sou agradecido aos governadores que vieram a Brasília prestar
solidariedade, imediatamente a gente se juntou e a gente percebeu que tínhamos
que trabalhar juntos, Legislativo, Executivo e Judiciário. E nós, então, nos
juntamos para garantir a democracia brasileira". Lula disse que todas as pessoas que estiverem envolvidas nos
atos golpistas serão investigadas. Ele pediu punição a quem tiver participação
nas ações criminosas. "Essa gente tem que ser condenada, senão a gente não
garante a existência e a sobrevivência da democracia", assegurou. O presidente também acusou a Segurança Pública de Brasília,
especialmente a Polícia Militar do Distrito Federal, pelo que chamou de
"negligência" na garantia de proteção aos prédios da República. Comandantes militares Durante a entrevista, Lula confirmou que terá um encontro na
sexta-feira (20) com os comandantes das três forças: Exército, Força Aérea e
Marinha, no Palácio do Planalto. O principal ponto de pauta é a modernização e
compra de equipamentos para os militares. O presidente também falou que vai
conversar com os comandantes para despolitizar o ambiente nas Forças Armadas. "É preciso que os comandantes assumam a
responsabilidade de dizer: o soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o
general, ele tem direito de voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser
para votar. Agora, como ele é um cargo de carreira, ele defende o Estado
brasileiro, ele não é exército do Lula, não é do Bolsonaro, não foi do Collor,
não foi do Fernando Henrique Cardoso, a Suprema Corte não é do Lula, sabe?
Essas instituições que dão garantia a esse país não precisam ter partido e não
precisam ter candidato. Eles têm que defender o estado brasileiro e defender a
Constituição", disse. Viagens Lula confirmou que viajará aos Estados Unidos, a convite do
presidente Joe Biden, no dia 18 de fevereiro. Antes disso, ele irá a Argentina
e ao Uruguai na próxima semana. Em março, ele embarca para a China. Além disso,
o chanceler alemão Olaf Scholz visitará o Brasil no dia 30 de janeiro. "Eu vou tirar o Brasil do isolamento e vou fazer com
que esse país volte a ser respeitado no mundo e seja protagonista
internacional". Reformas Na área econômica, o presidente voltou a defender uma
regulação que garanta seguridade social a trabalhadores de aplicativo e aqueles
empreendedores não formalizados. Segundo Lula, não é uma volta ao passado, mas
uma nova relação capital e trabalho. "Para isso, nós vamos criar uma comissão com
sindicalistas, com empresários e com o governo para ver se a gente cria uma
estrutura sindical em que as pessoas se sintam representadas e a gente possa
garantir que as pessoas tenham direito. Ou seja, porque esse trabalhador que
trabalha em aplicativo, ele pensa que ele é microempreendedor, ele não é
microempreendedor, porque ele não tem nenhum programa de seguridade social.
Quem tem que garantir isso é o Estado brasileiro".
Sobre reforma tributária, Lula defendeu mudança na regra do
Imposto de Renda para desonerar pessoas de renda mais baixa e média do
pagamento desse tributo, que deve ser mais progressivo do que o modelo atual.
"Não sei se você sabe que 60% das pessoas que pagam Imposto de Renda
ganham R$ 6 mil por mês. Essas pessoas são consideradas ricas", disse.
"Vamos tentar colocar em prática na proposta de reforma tributária, que
até R$ 5 mil a pessoa não pague Imposto de Renda. Sabe? Não é possível que a
gente não faça". Agência Brasil, com foto: Marcelo Camargo
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