22/01/2023
Morre Yanomami fotografada em estado grave de desnutrição; ela tinha 65 anos
BOA VISTA, RR - Morreu a mulher Yanomami fotografada em
estado grave de desnutrição, com costelas aparentes e corpo debilitado, em cima
de uma balança. A morte dela foi divulgada neste domingo (22) pela associação
Urihi. Ela tinha 65 anos e era da comunidade Kataroa, onde há forte presença de
garimpeiros ilegais e casos de dezenas de crianças doentes. A Terra Indígena Yanomam registra nos últimos anos
agravamento na saúde dos indígenas, com casos graves de crianças e adultos com
desnutrição severa, verminose e malária, em meio ao avanço do garimpo ilegal. O cenário de crise sanitária fez com que o Ministério da
Saúde decretasse emergência na saúde. Em visita a Boa Vista para acampar de
perto a situação, o presidente Lula (PT) classificou a situação dos Yanomami
como "desumana". Ao informar o óbito, a associação pediu que a imagem dela
não seja mais compartilhada nas redes sociais. A Urihi, no entanto, autorizou
que a foto fosse publicada no g1 neste domingo para noticiar a morte da mulher. "Durante a visita a comunidade Kataroa, nesta última
semana, recebemos a informação que a senhora Yanomami da imagem, veio a óbito
por conta do seu grave estado de desnutrição. Gostaríamos de pedir a todos que
evitem a partir deste momento o compartilhamento da imagem dela", pediu a
Urihi, que tem como presidente o ativista e líder indígena Júnior Hekurari
Yanomami. A foto mulher foi divulgada em dezembro do ano passado pela
Urihi junto à outras imagens que denunciavam a crise na saúde do povo Yanomami. A imagem mostrava a vítima com o corpo debilitado, enquanto
era sustentada em pé por uma agente de saúde ao pesá-la numa balança. "Na cultura Yanomami, após o falecimento, não
pronunciamos o nome da pessoa. Queimamos todos os seus pertences, e não
permitimos que fotografias permaneçam sendo divulgadas. Estamos vivenciando uma
crise humanitária, e sabemos que o governo se mobilizou buscando ações que
ofereçam todo o suporte que a população necessita neste momento",
reforçou. Hekurari também presidente do Conselho Distrital de Saúde
Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY) e acompanha equipes do Ministério da
Saúde nos atendimentos emergenciais que têm sido feitos desde o dia 16. O médico tropicalista André Siqueira, que está na região,
compartilhou um pouco do que viu nos últimos dias, e diz ter testemunhado
"a pior situação de saúde e humanitária" que já viu, tanto de flata
de estrutura, quanto de doenças como desnutrição grave, infecções
respiratórias, malária e doenças diarreicas. Ao decretar o estado de emergência, o Ministério da Saúde
acionou a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) - ação voltada à
execução de medidas de prevenção, assistência e repressão a situações
epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população quando for
esgotada a capacidade de resposta do estado ou município. Além disso, por causa da desassistência sanitária da
população do território Yanomami, o Ministério estuda acelerar um edital do
Programa Mais Médicos para recrutar profissionais para atuação nos Distritos
Sanitários Indígenas (Dsei).
Só em 2022, segundo o governo federal, 99 crianças Yanomami
morreram, na maioria, por desnutrição, pneumonia e diarreia, que doenças
evitáveis. A estimativa é que, ao todo no território, 570, crianças morreram
nos últimos quatro anos, na gestão de Jair Bolsonaro. g1, com foto: Divulgação/Urihi Associação Yanomami
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