05/02/2023
Após ação do governo, garimpeiros começam a fugir da Terra Indígena Yanomami
BOA VISTA, RR - Setores de inteligência do governo federal e
o movimento indígena identificaram a fuga de garimpeiros da Terra Indígena
Yanomami, em Roraima. A informação é da ministra dos Povos Indígenas, Sonia
Guajajara, que desembarcou no estado, neste sábado (4), para acompanhar as
ações interministeriais que tentam conter a crise humanitária envolvendo o povo
Yanomami. "Temos essa informação que muitos garimpeiros estão
saindo. Mas é bom que saiam mesmo, porque assim a gente até diminui a operação
que precisa ser feita para retirar 20 mil garimpeiros, [o que] demora um
tempinho", disse a ministra, em coletiva de imprensa. "Importante
dizer que, para que a gente consiga sair dessa situação de emergência em saúde,
é preciso combater a raiz, que é o garimpo ilegal. Não é possível que 30 mil
yanomami sigam convivendo com 20 mil garimpeiros dentro do seu
território", destacou. "O governo federal está trabalhando em articulação com
o governo do estado, aqui de Roraima, para ter esse plano de retirada",
acrescentou a ministra. Vídeo repassado à reportagem da Agência Brasil por
Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e
Ye'Kuana (Codisi-YY), mostra uma fila de garimpeiros se movimentando na mata,
no que seria uma suposta retirada dos invasores da Terra Indígena. Segundo a
ministra Sonia Guajajara, a movimentação também foi vista por indígenas em
sobrevoos na região da área demarcada. O governo de Roraima também informou ter tido acesso "a
fotos e vídeos de pessoas saindo espontaneamente" de garimpo localizado na
Terra Indígena Yanomami. "São
homens, mulheres e crianças que, tendo conhecimento das operações que deverão
ocorrer nos próximos dias, resolveram se antecipar e evitar problemas com a
justiça", informou a assessoria do Executivo estadual, em nota à imprensa. Uma das preocupações do governo é que essa retirada não
signifique invasão posterior de outras áreas, como ocorreu há 30 anos, segundo
Lucia Alberta Andrade, diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). "Nós, como governo federal, temos que tomar muito
cuidado para que não ocorra, neste momento, o que aconteceu em 1992, quando
aconteceu a desintrusão da Terra Indígena Yanomami, em que garimpeiros saíram e
grande parte deles foram para a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, ou para
outros garimpos ilegais que existem na Amazônia. Então, temos que ter
estratégias, que não podemos compartilhar com todos vocês, para que isso não
ocorra. Temos que ter vigilância maior em todas as terras indígenas",
afirmou Lucia Andrade. Reforma de pista Sonia Guajajara afirmou que a base aérea no Surucucu vai ser
reestruturada para que possa receber aviões de maior porte. A medida vai
possibilitar levar a infraestrutura para montar um hospital de campanha na
região. Ela não estipulou prazo para a efetivação dessas medidas. Ainda segundo a ministra, o governo deve viabilizar a
construção de poços artesianos e estrutura de cisterna, para captar água da
chuva, além de uma uma estrutura de comunicação para manter contato entre os
diferentes polos da Terra Indígena. Ela também mencionou o bloqueio do espaço
aéreo sobre o território, como medida efetiva já em vigor. "Só assim a gente vai conseguir começar a ter, de fato,
o resultado. Não se justifica que voos continuem sobrevoando território
yanomami, sendo que aqui o estado não há nenhuma autorização para exploração de
minérios", apontou. Balanço de saúde Mais cedo, em Boa Vista, Sonia Guajajara visitou a Casa de
Saúde Indígena (Casai) e o Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira
(FAB), e depois se reuniu com integrantes do Centro de Operações Emergenciais
(COE) do governo federal. Representantes de entidades indígenas e de organismos
internacionais, como a Organização Panamericana de Saúde (Opas) e os Médicos
Sem Fronteiras, também estiveram presentes. Durante a coletiva, o COE atualizou a situação de saúde dos
indígenas no estado. Na Casai, há um total de 601 yanomami, entre pacientes e
seus acompanhantes. Além disso, há outros 50 indígenas internados, entre
Hospital Geral de Roraima (HGR) e o Hospital da Criança Santo Antonio (HCSA),
ambos em Boa Vista.
"Estamos com duas equipes compostas por profissionais
da Força Nacional [do SUS], uma em Auaris e outra no Surucucu, onde há uma
média de 60 a 70 atendimentos diários", informou Ernani Santos,
coordenador local do COE. Pedro Rafael Vilela/Kelly Oliveira - Agência Brasil, com foto: Marcelo Camargo
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