12/03/2023
Governo proporcionará passagens aéreas a R$ 200 para estudantes, aposentados e funcionários públicos
BRASÍLIA, DF - O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio
França, conversou com o Correio Braziliense e detalhou os planos à frente da
pasta. França antecipou o programa que deve ser lançado para a venda de
passagens aéreas por R$ 200. O projeto destina-se a aposentados, funcionários
públicos e estudantes. O ministro também comentou as dificuldades envolvendo as
concessões dos aeroportos de Natal (RN), Viracopos, em Campinas (SP), e Galeão,
no Rio de Janeiro. Segundo o titular da pasta, após pressão do governo Jair
Bolsonaro, os concessionários apresentaram cartas renunciando às concessões.
Agora, tentam reverter os pedidos e manter a administração dos terminais. França garantiu que todos os contratos serão honrados, mas
apontou dificuldades envolvendo a sétima fase dos leilões, que privatizou o
aeroporto de Congonhas, na capital paulista. Sobre os portos, assegurou que as autoridades portuárias não
serão privatizadas, naufragando com os planos do ex-ministro da Infraestrutura
de Bolsonaro, e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que
pretendia entregar o Porto de Santos à iniciativa privada. Veja os principais
trechos da entrevista: O presidente declarou
que quer ver o pobre viajando de avião. Como isso será possível? O pedido do presidente Lula é ter mais passageiros e
aeroportos, com mais pousos de aviões de carreira. O plano está montado, agora
é uma questão de o governo concordar. Será uma revolução na aviação brasileira.
A meta é encontrar passagens a R$ 200 (o trecho), R$ 400 ida e volta, de
qualquer lugar do país. O que estamos buscando é comprar a ociosidade dos
espaços. As companhias brasileiras chegam na faixa de 30 milhões de
passageiros, cada uma delas, operando com 78% a 80% de vagas ocupadas. Outras
20% saem vazias. Eu quero essas vagas para as pessoas que não voam. O governo compraria
essas passagens? Não. Quem vai comprar é o aposentado e o pensionista da
previdência. Todos os servidores públicos, com salário de até R$ 6.800, e
estudantes. Duas passagens por ano. Cada usuário terá direito a duas passagens
por pessoa por ano. Você pode comprar para você e para sua esposa, para você e
para o seu filho. Ou seja, duas idas e voltas para qualquer lugar, quatro
pernas por R$ 200,00 cada, R$ 800,00 em 12 prestações de R$ 72,00. Essa é a
meta. Tira dezembro, janeiro e julho. São 14 a 15 milhões de passagens ao ano
por R$ 200. Mas quem faria a
venda, o governo? Um aplicativo, a Caixa Econômica, ou Banco do Brasil, tanto
faz. São pessoas que já tem a renda vinculada conosco, estudantes são a
exceção. Temos que encontrar um mecanismo de financiamento. Ajuda a aviação, as
pessoas vão poder voar. Lembra aquela história que aeroporto era rodoviária,
isso se dá com o crescimento econômico. Melhora a economia vai ter crescimento. O governo subsidia
essas passagens? Não, a busca é fazer um acordo com as empresas para vender o
espaço excedente com o governo intermediando. No fundo isso já existiu. A Caixa
Econômica fez isso, muito tempo atrás. Um programa chamado Melhor Viagem,
destinado a idosos. Conversei com a presidente da Caixa, acho que vai ser
fácil. O que importa é a decisão política e as três (companhias) têm que
querer. Nós só temos três: Azul, Gol e Tam, pode ser que alguma não se
interesse, mas acho difícil. Como garantir que o
programa seja, de fato, utilizado por esse público? Você se encaixa com os R$ 200? Porque as empresas não vão
querer que você compre a passagem por R$ 200 se você ganha mais que os R$
6.800. Não é para competir com você mesmo, tem que encontrar o público. Mas não
tem banco, não tem financiamento, não tem 1 2 3 milhas. É outro público, nós
temos hoje 90 milhões de passageiros, mas só 10 milhões de CPFs que voam. Veja
que absurdo, 90 milhões de passagens emitidas por ano, para apenas 10 milhões
de pessoas. O presidente Lula
anunciou a construção de cem aeroportos regionais? Não é construir, é instalar, os aeroportos já existem. O
Brasil possui 550 aeródromos. O problema é que não estão preparados para
receber aeronaves de passageiros. Como financiar esses
novos aeroportos? O aeroporto é integração nacional. É a maneira mais
ecologicamente correta de integrar o país. Não precisa de estrada, não precisa
cortar árvores. Com 1,5 km de pista você liga qualquer lugar do Brasil. O governo subsidiará? Nós temos que ter aeroporto e ele será subsidiado. Ou seja,
ele não vai dar lucro, ele não é para dar lucro, a escola pública não é para
dar lucro, o hospital público não é para dar lucro, o aeroporto não é para dar
lucro. Pode ser privatizado, mas onde não dá lucro, o governo tem que colocar dinheiro
e fazer funcionar. Galeão, Viracopos e Natal. As empresas disseram 'quero
devolver'?Não foi bem assim. Eles estavam com muita dificuldade financeira. O
governo anterior deu uma pressionada, sob a pena de recuperação judicial. O
empresário fica com medo de falência. Eles assinaram uma carta, dentro do
processo judicial, dizendo que queriam devolver. Tanto que ambos, Galeão e
Campinas, querem voltar atrás. O governo Bolsonaro
forçou Galeão e Campinas? Na expressão do CEO do Galeão, eles foram obrigados (pelo
governo Bolsonaro) a assinar (a manifestação de interesse na devolução). O governo pode manter
o Galeão e Viracopos? A Infraero pode voltar a gerenciar. Ela já é dona de 49%
destes aeroportos, nesse formato de licitação, 49% ficou com o Governo. Não
haveria dificuldade, vai absorver e vai administrar. Mas, teoricamente, está
contrariando a lógica dos aeroportos serem privados. Congonhas está
concedido? Não está concedido, Congonhas foi feita a licitação, sétimo
lote (...) mas todos (vencedores da licitação) pediram para pagar a outorga em
precatórios (...) nós estamos formatando uma resposta pra dizer que se não
tiver o aval da AGU, nós não vamos aceitar o precatório (para pagar a outorga),
então judicializa. Congonhas deve se
arrastar? Nós não vamos descumprir acordos licitatórios, porque você
manda um recado muito ruim para o mundo. Paralelamente, estamos passando pente
fino nas concorrências. Chega a ser curioso, porque só uma empresa entrou na
concorrência em Congonhas. Um aeroporto tão lucrativo e só uma empresa entrou.
Ela foi a única concorrente e entrou com 200 ou 300% acima do preço mínimo.
Esquisito! E qual é a suspeita? Não são 300 mil gestores de aeroportos do mundo, são poucos.
Ah! você pode entrar lá, eu entro aqui, é muito comum isso. O mercado se ajusta
antes da concorrência. Então a preferência
do governo é manter Congonhas? A gente vai respeitar o que foi feito, desde que tenha sido
feito corretamente e as pessoas paguem os valores. Nós entendemos que dá para
manter público e sobre gestão pública aquilo que sobrou, como o Santos Dumont. O Porto de Santos
será privatizado? A autoridade pública será mantida. Zero chance de privatizar
a autoridade pública. E o governador (de
São Paulo) Tarcísio? Ele veio aqui, ficou duas horas comigo. Usei a expressão
para ele: 'governador, com todo respeito, desapega', o senhor tem um monte de
coisas nas quais vai prestar atenção, situações polêmicas. Vamos pegar a parte
comum, por exemplo. Vamos pegar a parte que é indiscutível, o projeto do túnel
entre o Guarujá e Santos. Aquilo é uma obra de R$ 3, 4 bilhões. Isso é uma obra
do governo que nós vamos fazer, uma obra do governo federal. Uma obra grande,
um túnel submerso, uma coisa que nunca foi feita no Brasil. Como avalia as
dificuldades do cargo?
Eu sinto no Lula uma tremenda angústia quanto a isso. Ele
fala, 'olha não se enrole, o prazo vai de trás para frente no governo. Daqui a
pouco passam três meses, um ano… é muito rápido'. Você pode ter dinheiro, pode
ter tudo, mas não existe um estoque de projetos pré-aprovados. Aprovados
ambientalmente, com licitação pronta, que você decida sim ou não. Você tem que
começar tudo. Correio Braziliense, com foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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