18/04/2023
Lula recebe chanceler russo em um encontro reservado para discutir proposta de paz na Ucrânia
BRASÍLIA, DF - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
recebeu nesta segunda-feira (17), no Palácio da Alvorada, o ministro das
Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que cumpre agenda oficial em
Brasília. O encontro foi reservado. Segundo o chanceler brasileiro, Mauro
Vieira, foi uma visita de cortesia. Após o encontro, Vieira falou a jornalistas
na entrada da residência oficial e comentou sobre a disposição do governo brasileiro
em ajudar a dialogar sobre o fim da guerra na Ucrânia. "A conversa, tanto comigo como com o presidente, não
entramos em questão de guerra. Entramos em questões de paz. O Brasil quer
promover a paz, está pronto para arregimentar ou se unir a um grupo de países
que estejam dispostos a conversar sobre a paz. Essa foi a conversa que nós
tivemos", afirmou. O ministro evitou comentar críticas de países
ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, sobre a posição brasileira em
relação ao conflito. "O Brasil e a Rússia completam, este ano, 195 anos de
relação diplomática, com embaixadores residentes", destacou. Mauro Vieira também relatou que Lula recebeu, das mãos de
Lavrov, uma carta enviada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em que o
convida para visitar a Rússia, em junho, para um fórum econômico em São Petesburgo.
"O convite está sendo examinado", disse o chanceler. Ainda este ano, os governos de Brasil e Rússia devem se
reunir novamente por meio da comissão de alto nível dos dois países, que são
presididas pelo vice-presidente brasileiro e o primeiro-ministro russo. "Identificamos uma quantidade bem grande de interesses
comuns, em ciência e tecnologia, cultural e pesquisa espacial", destacou
Vieira. Visita oficial Mais cedo, no Palácio do Itamaraty, Lavrov agradeceu o
empenho do Brasil para negociar o fim da guerra na Ucrânia e disse que o
governo russo está interessado em solucionar o conflito o mais rapidamente
possível. Lavrov fez a declaração após se reunir com o ministro das Relações
Exteriores do Brasil. Desde o início do governo, Lula tem defendido a criação de
um grupo de países neutros para negociar uma saída pacífica entre Rússia e
Ucrânia. A guerra já dura mais de um ano, desde que as forças russas invadiram
o território ucraniano, em meio a conflitos regionais e à atuação da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em países próximos à fronteira
com a Rússia. “Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo imediato,
do respeito ao direito humanitário e de solução negociada com vistas a uma paz
duradoura e que contemple as preocupações de ambos os lados”, disse o chanceler
brasileiro em declaração à imprensa após o encontro. Em viagem à China na semana passada, o presidente Lula disse
que, com “boa vontade” mútua, seria possível convencer os presidentes russo,
Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, de que a paz interessa a todo
o planeta. O presidente brasileiro pediu paciência para convencer os
países que estão fornecendo armas à Ucrânia, dizendo que os Estados Unidos
devem parar de “incentivar a guerra” e sugerindo que a União Europeia e os
demais países comecem a falar em paz. Sanções O conflito tem impactado o comércio global, com as sanções
impostas à Rússia pelos Estados Unidos, Japão e países europeus. Além disso,
Rússia e Ucrânia são grandes produtores agrícolas, e a guerra está causando
aumento nos preços dos alimentos em todo o mundo. A Europa também está sendo
fortemente impactada pela falta do fornecimento de gás natural da Rússia. Nesta segunda-feira, Mauro Vieira reiterou a posição
brasileira contrária à aplicação de sanções unilaterais. “Tais medidas, além de
não contarem com a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem
impacto negativo a todo o mundo, em especial aos países em desenvolvimento,
muitos dos quais ainda não se recuperaram plenamente da pandemia”, disse. Para o Brasil, a Rússia é o principal fornecedor de
fertilizantes, insumo essencial para o agronegócio brasileiro. No ano passado,
o presidente russo garantiu o fornecimento ininterrupto de fertilizantes para o
país. Hoje, os chanceleres conversaram sobre medidas para garantir o fluxo
desse insumo.
Brasil e Rússia também atingiram quase US$ 10 bilhões em
comércio bilateral este ano. "Era o volume que tinha sido estabelecido
como meta, há cerca de 12 anos, quando foi criada a comissão de alto nível
[entre os dois países]", afirmou Mauro Vieira. Pedro Rafael
Vilela/Juliana Andrade, com foto: Fábio Rodrigues Pozzebom – Agência Brasil
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