11/05/2023
Biomédica presa por morte de paciente durante procedimento estético é suspeita de ocultar provas
DIVINÓPOLIS, MG - A Polícia Civil de Minas Gerais (PMMG)
instaurou inquérito para apurar a morte de uma paciente, de 46 anos, após
sofrer parada cardiorrespiratória durante procedimento estético, em
Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. Imagens de segurança do prédio, que fica
no centro da cidade, foram recolhidas. Há suspeitas de que o local tenha sido
alterado antes da chegada da perícia, na segunda-feira (8/5). Segundo a perita Paula Lamounier, existem relatos de que um
funcionário da clínica foi visto deixando o local com sacos plásticos e caixas,
supostamente usados para descartar materiais utilizados durante o procedimento. “Seria alteração da cena que pode ter ocorrido
inadvertidamente ou propositalmente e, também, ocultação de provas, o que vamos
verificar nas câmeras”, explica. A ficha da paciente, Íris Dorotéia do Nascimento Martins,
também não foi encontrada e nem fornecida à perícia. “Não havia ficha de
evolução das técnicas que tinham sido indicadas à paciente, avaliação e, tão
pouco, os registros do que foi feito naquele dia. Não temos o registro do que
foi injetado, o volume, qual concentração, como foi feito esse cálculo”, conta
Paula. Não foi encontrado o laudo de risco cirúrgico. A perícia também não encontrou a suposta máquina que seria
utilizada no procedimento chamado de “laser HD”. Nas redes sociais, a biomédica
descrevia a técnica como “sem cortes” e a apresentava o método como se tivesse
sido desenvolvido por ela. Lorena ainda prometia “resultado igual a cirurgia”.
A paciente pagou cerca de R$ 12 mil. A alegação é de que o equipamento era alugado por hora e
que, diante do ocorrido, ele teria sido dispensado. Entretanto, a paciente
havia sido submetida horas antes a solução anestésica. Hemorragia A suspeita é que a parada cardiorrespiratória tenha ocorrido
em decorrência de hemorragia. “A vítima tem 12 perfurações, 10 no abdômen e
dois nos glúteos. Além disso, nosso exame na região do tecido subcutâneo,
aquele que fica abaixo da pele e acima da musculatura, mostrou que tinha uma
quantidade significativa de sangue e no exame de tomografia a gente constatou
hematoma e até mesmo gases o que mostra que uma manipulação aconteceu ali e em
decorrência a hemorragia”, explica o médico-legista, Lucas Amaral. A conclusão, até o momento, é de que Íris Martins foi
submetida a lipoaspiração ou lipoescultura no abdômen, além de enxerto nas
nádegas. Outros exames ainda serão analisados. Os procedimentos são
considerados de média a alta complexidade e podem ser realizados apenas por
médicos. Além do exercício ilegal da medicina, a clínica não tinha
estrutura com equipamentos adequados, como desfibrilador. No local, não tinha
nem mesmo aparelho para aferir pressão. Também seria necessário o
acompanhamento de um anestesista. A paciente foi socorrida, inicialmente, por um médico
cardiologista que atende em uma outra clínica no prédio, até a chegada do
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi levada para a Sala
Vermelha do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) em estado gravíssimo. Lá, Íris foi transferida para o Centro de Terapia Intensiva
(CTI) e recebeu duas bolsas de sangue, além de uma de plasma. A mulher morreu
na noite do mesmo dia. O corpo da paciente foi velado e sepultado nesta terça-feira
(9/5) em Djalma Dutra, comunidade rural de Divinópolis. Nenhum familiar falou
até o momento. O marido dela deverá ser ouvido nesta quarta-feira (10/5) na
delegacia. Outras investigações A biomédica continua presa no presídio Floramar, em
Divinópolis, suspeita de homicídio doloso com dolo eventual. “Ela assumiu o
risco no momento em que ela estava fazendo um procedimento que ela não estava
autorizada. Em um procedimento de médio a grande porte ela teria que ter outros
profissionais médicos, anestesistas, equipamentos para suporte em caso de ter
uma intercorrência, e ela não tinha nada disso. No momento que ela faz esse
tipo de cirurgia sem equipamentos, ela assume o risco do resultado morte. É
como se ela tivesse matado com intenção”, explica o delegado Marcelo Nunes. De acordo com o delegado, há outros seis boletins de
ocorrência registrados contra a profissional, além de um inquérito em
andamento. A polícia também apura denúncia de que Lorena Marcondes estaria
usando registro profissional de outra pessoa. Também foi presa a técnica de enfermagem, de 33 anos, que
teria participado do procedimento. O delegado informou que ela permaneceu
calada durante o depoimento. A audiência de custódia foi realizada nessa terça-feira
(9/5) e elas aguardam a decisão da Justiça para saber se poderão ficar em
liberdade no decorrer das investigações. A defesa da biomédica e da técnica informou que não irá se
manifestar no momento.
Interdição
Com alvará vencido desde outubro do ano passado e em
processo de renovação, a clínica foi interditada pela Vigilância Sanitária na
segunda-feira (8/5) por realizar procedimentos não declarados e autorizados.
De acordo com o rol de atividades dos profissionais em
estética do Conselho Biomedicina, os biomédicos só podem realizar procedimentos
como: eletroterapia, sonoforese (ultrassom estético), iontoforese,
radiofrequência estética, laserterapia, luz intensa pulsada e LED, peelings
químicos e mecânicos, cosmetologia, carboxiterapia, intradermoterapia (enzimas
e toxina botulínica), preenchimentos semi permanentes, mesoterapia. Amanda Quintiliano/Especial
para o EM, com fotos: Reprodução/Redes Sociais
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