06/03/2021
Governo Federal tira patrocínio cultural de estados que adotaram medidas contra a Covid-19
BRASÍLIA - A Secretaria Nacional de Fomento e Incentivo à
Cultura editou uma portaria segundo a qual projetos culturais que buscam
patrocínio oficial sequer passarão por análise, caso sejam de locais onde os
governos, devido à pandemia de Covid-19, tenham adotado medidas restritivas de
circulação. A portaria foi publicada no "Diário Oficial da
União" desta sexta-feira (5). O texto diz que propostas culturais que
envolvam interação presencial com o público só serão analisadas se estiver em
um estado ou município sem restrição de circulação, toque de recolher, lockdown
ou outras ações que impeçam a execução do projeto. A portaria pode ser revista dependendo da manutenção ou não
das medidas restritivas nos entes da federação. Parte dos estados, o Distrito Federal e as maiores capitais
estão com medidas restritivas para tentar barrar o avanço da pandemia. A
portaria exclui os projetos de todos esses locais. O mais grave, segundo os produtores culturais, é que a
medida seria uma forma de pressionar pelo fim dessas ações de proteção à
população, no momento em que cresce o número de pessoas infectadas e as mortes
pelo coronavírus. A gestora cultural Chris Ramirez, atuante no setor há 30
anos, diz que a portaria não tem intenção de incentivar o setor cultural nem a
geração de empregos. Ela lembra que grande parte dos artistas teve de parar há
quase um ano. Segundo afirmou, a forma de movimentar a cultura com segurança é
o uso das redes sociais e isso, disse, poderia ser prioridade do governo
federal. "Primeiro, ela [a portaria] pegou o setor cultural
totalmente desprevenido sobre isso. E nós entendemos como uma provocação essa
portaria porque o setor cultural — é sabido — está impedido de realizar suas
atividades, seu trabalho, desde março do ano passado. Então, quer dizer, você
publicar uma portaria que estimula atividades presenciais, que ela estimula,
quer dizer, provoca os gestores a eles não manterem o isolamento e o
distanciamento, enquanto o Brasil pode chegar a 3 mil mortos por dia",
afirmou. "Eles deveriam agora estar promovendo atividades não
presenciais. Ao contrário, ele [o governo] está mais uma vez incentivando o
negacionismo e colocando a vida das pessoas em risco", completou Ramirez. O presidente da Associação de Produtores Teatrais do Rio,
Eduardo Barata, também criticou a medida. Ele afirmou que a portaria é uma
forma de "extinguir" Lei Rouanet, que prevê patrocínio a projetos
culturais. "É uma forma de desidratar a Lei Rouanet, extinguir a
Lei Rouanet em vida, é bastante preocupante. É assustador pensar que o próprio
governo está agindo contra os protocolos sanitários, contra as indicações da
saúde e da medicina", disse Barata. Na Câmara já foram apresentados nesta sexta cinco projetos
de decreto legislativo para cancelar a portaria. Os deputados argumentam que, se a medida for mantida, vai
acabar com o fomento e o estímulo às atividades culturais no país.
Dizem também que o texto não leva em conta a forma segura de
fazer cultura atualmente, que é pela internet e, afirma ainda que é um
incentivo às atividades presenciais no momento mais grave da pandemia. G1
|