17/04/2021
Em depoimento, amante de Dr. Jairinho conta que ele pisoteou seu filho em sessão de tortura
RIO DE JANEIRO, RJ - A assistente social Débora Mello
Saraiva, de 34 anos, confirmou em depoimento prestado à 16ª Delegacia de
Polícia, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, as agressões que ela
e o filho, hoje com oito anos de idade, sofreram do vereador e médico Jairo
Santos Souza Júnior, o Dr. Jairinho. Ela foi amante do vereador ao longo dos
últimos anos até ele ser preso, no dia 8 de abril, acusado pela morte do seu
enteado Henry Borel, de 4 anos, após uma sessão de espancamentos. Ele e Monique
Medeiros, de 33 anos, vão responder por homicídio duplamente qualificado e
tortura da criança. Débora confirmou a revelação de VEJA no último dia 2 de
abril: seu filho, à época com três anos, voltou de um passeio com “tio” Jairinho
com o fêmur quebrado. A reportagem revelou que a criança foi encaminhada para
uma clínica de amigos do vereador em Campo Grande, na Zona Oeste. À polícia,
Débora confirmou o atendimento médico, mas disse “não se lembrar” da unidade
hospitalar onde o filho foi atendido. Ainda de acordo com o depoimento, ao qual VEJA teve acesso,
a assistente social confirmou outro episódio horripilante sobre Dr. Jairinho.
Em 2015, ele e a irmã, também menor de idade, acordaram para beber água. O
vereador estava acordado e Débora estava dormindo. Jarinho mandou a menina, que
é mais velha que o irmão, pegar água e ir deitar, pois ele cuidaria do garoto -
à época com 3 anos incompletos. A mulher contou que o filho lhe disse que Dr.
Jarinho “colocou um papel e um pano na boca dele, e disse que ele não poderia
engolir”. O parlamentar, então, teria deitado a criança pequena no sofá da
sala, ficado em pé no sofá e apoiado todo o peso do corpo dele com os pés acima
do menino. O garotinho teria relatado ainda que conseguira se desvencilhar,
chamara pela mãe e que ela não conseguia acordar. Dr. Jairinho conseguiu
alcançá-lo, levou a criança “até o estacionamento, para dentro do carro",
e que o vereador teria colocado um saco plástico na cabeça do menino. Em
seguida, ficou dando voltas com o veículo. Aos policiais, a mulher afirmou que suspeita ter sido dopada
naquela noite em que a criança foi torturada - isto porque sua filha e sua mãe
viram um copo de bebidas com um pó branco em seu interior. Outras duas ocasiões reveladas por VEJA não constam no
depoimento de Débora, prestado nesta sexta-feira, 16, na delegacia. A
reportagem mostrou outro momento descrito por uma amiga que frequentava à casa
da família de Débora: o menino, novamente ao sair para um passeio com o
vereador, voltou com o rosto completamente desfigurado e os olhos roxos. A
explicação é que teria caído de cabeça. “Nas duas vezes, tanto da perna quanto
essa, Jairinho o levou a uma clínica de conhecidos dele. Minha amiga estava
deslumbrada e tinha medo por ele ser poderoso”, contou a mulher à reportagem,
veiculada na revista em 2 de abril. Ela ainda afirmou que em mais um episódio, a assistente
social teria sido dopada pelo então namorado e, quando despertou, flagrou o
menino chorando enquanto Dr. Jairinho dava banho nele em uma banheira. Como
acontecia com o pequeno Henry, essa amiga garantiu ter presenciado diversas
vezes o filho da assistente social “chorando e tremendo” só de ouvir as
palavras “tio Jairinho”. Agressões contra a
mulher Débora também relatou que foi constantemente agredida por
Dr. Jairinho ao longo do relacionamento turbulento que mantiveram. A primeira
agressão física a ela teria ocorrido em 2016, quando a assistente social teria
mexido no aparelho celular do vereador e descobriu uma troca de mensagens entre
ele e a ex-mulher, a nutricionista Ana Carolina Ferreira Netto - que também
registrou dois boletins de ocorrência devido a agressões do parlamentar, em
2014 e em 2020. Débora relatou que acordou Dr. Jairinho e que ele ”se
transformou", segurando-a forte pelo braço, enquanto mexia no seu celular,
dizendo que "sumiria" com ela, “que iria simular um assalto, largaria
a bolsa e o celular da declarante em algum canto e ligaria para sua mãe,
dizendo que não mais sabia seu paradeiro”. Em seguida, Dr. Jairinho largou o celular e partiu para cima
de Débora, a jogou no sofá, subiu em cima dela e passou a esganá-la, apertando
seu pescoço. Mesmo sem ar, Débora tentava dizer que ele estava a matando porque
não conseguia respirar. Subitamente, o vereador mudou de feição, largou o
pescoço da mulher e disse: “vamos dormir”. Ela mencionou mais três ocasiões em que foi agredida, embora
tenha dito à polícia que o número de vezes em que ele a espancou era
incalculável. Em 2019, quando se separou de Dr. Jairinho, ele a procurou
tentando reatar o relacionamento. Eles discutiram e Débora disse que iria
telefonar para a ex-mulher do vereador, Ana Carolina, e contar tudo. Dr.
Jairinho, teria, então, a ameaçado: “Faz isso que eu te machuco onde mais te machuca”.
A assistente social disse que entendeu que o parlamentar ameaçou a vida dos
seus dois filhos. Outra agressão, também sofrida em 2019, ocorreu após mais uma
discussão: Dr. Jairinho deu um chute no pé de Débora, o que fraturou um dos
dedos inferiores dela.
Outro momento em que Débora afirmou ter sido agredida
aconteceu no ano passado, quando ela impediu que o vereador observasse o
conteúdo do celular dela. O casal estava em Mangaratiba, na Costa Verde
fluminense, onde a família de Dr. Jairinho tem casa em um condomínio de luxo.
Dr. Jarinho aplicou um “mata-leão” na mulher, lhe arrastou pela casa e chegou a
dar três mordidas em seu couro cabeludo. Quando perguntava ao parlamentar o
motivo pelo qual ele lhe agredia, Dr. Jairinho lhe respondia: “Tá maluca, eu
não fiz isso. Eu não fiz nada”. Veja
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