19/04/2021
Em carta, ganhadores do Nobel, cientistas e pesquisadores alertam contra ataques à ciência no Brasil
SÃO PAULO, SP - Cientistas e pesquisadores, incluindo três
ganhadores do prêmio Nobel, se uniram por meio de uma carta para defender o
exercício da ciência no Brasil e criticar a atuação do governo durante a
pandemia de Covid-19. O grupo afirma que a área está sob ataque do governo do
presidente Jair Bolsonaro. A carta "destinada aos acadêmicos de diferentes
continentes em solidariedade a seus colegas do Brasil e ao povo brasileiro” foi
publicada em 7 de abril (veja íntegra abaixo). Até o dia 19 de abril, o documento já somava mais de 200
assinaturas. Entre os signatários estão três pesquisadores laureados com o
Nobel: Michel Mayor (Nobel de física em 2019), Peter Ratcliffe (Nobel de
medicina em 2019) e Charles Rice (Nobel de medicina em 2020). A carta também é assinada por brasileiros membros de
diferentes universidades e institutos científicos. No texto, os signatários
afirmam que a ciência brasileira sofre com cortes orçamentários, perseguições e
a instrumentalização para fins eleitorais. O grupo ainda aponta o governo Bolsonaro como o responsável
pela proliferação de informações falsas referentes a Covid-19, o que agravou a
situação da pandemia no país. "Se o coronavírus atinge todos os países do globo, o
presidente Jair Bolsonaro deve ser responsabilizado pela gestão catastrófica da
crise no Brasil, que não só ajudou a aumentar o número de mortes, mas acentuou
as desigualdades no país", afirmam os signatários. O documento foi assinado por membros de universidades na
França, Canadá, Marrocos, Senegal, África do Sul, Estados Unidos, Reino Unido,
Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Holanda, Bélgica, Mianmar, Alemanha, Espanha,
Argentina, Colômbia, México e Suécia. Leia, abaixo, a
íntegra da carta: Carta Aberta em solidariedade à ciência no Brasil "Terça-feira, 6
de abril de 2021: o Brasil contabilizou 4.195 mortes ligadas à Covid-19. Ao
todo, mais de 340 mil brasileiros já morreram desde o começo da pandemia. Se o
coronavirus atinge todos os países do mundo, a amplitude da crise sanitária no
Brasil não pode ser dissociada da gestão catastrófica do presidente Jair
Bolsonaro. Ele deve ser denunciado por suas ações, que não apenas fez explodir
o número de vítimas, mas acentuou a desigualdade no país. Em várias ocasiões, o
presidente da república do Brasil qualificou a Covid-19 como “uma gripezinha”,
minimizando a gravidade da doença. Criticou as medidas preventivas, como o
isolamento físico e a utilização de máscaras, e provocou inúmeras vezes
aglomerações populares. Defendeu pessoalmente o uso da cloroquina, apesar de
cientistas terem advertido sobre os efeitos tóxicos de sua utilização. Os
pesquisadores que publicaram estudos científicos demonstrando que a utilização
do medicamento aumentava o risco de morte de pacientes com Covid foram
ameaçados no Brasil. Bolsonaro igualmente desencorajou a vacinação, chegando a
sugerir, por exemplo, que as pessoas poderiam se transformar em “jacaré”. Entre
o negacionismo, a proliferação de informações falsas e os ataques contra a
ciência em plena crise sanitária, Bolsonaro mudou quatro vezes de ministro da
Saúde. A ciência no Brasil
está sob fogo cruzado. De um lado, cortes orçamentários que golpeiam a pesquisa
e ameaçam o trabalho de cientistas; de outro, a instrumentalização da ciência
para fins eleitorais, como mostram as declarações do presidente. Não é possível
esquecer também os ataques de Bolsonaro ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), num contexto alarmante de altos níveis de desmatamento na Amazônia. Negando a ciência,
Bolsonaro não apenas atinge a comunidade científica, mas a sociedade brasileira
em sua totalidade. Os números da devastação desde o início da pandemia só faz
aumentar; de acordo com os dados da Fiocruz, quase 92 novas cepas de coronavirus
foram identificadas, transformando o país numa verdadeira usina de variantes, e
a estas estatísticas deve-se acrescentar os impactos sobre o meio-ambiente,
sobre povos tradicionais da Amazônia e sobre o clima em todo o mundo. Neste contexto de
crise sanitária, agravamento da desigualdade e mudança climática, este tipo de
comportamento é inaceitável e o presidente deve ser responsabilizado por seus
atos. Estamos preocupados com o agravamento da crise no Brasil e os ataques à
ciência. Nesta carta aberta, queremos manifestar nossa solidariedade com nossos
colegas no Brasil, cuja liberdade está ameaçada. Manifestamos igualmente nossa
solidariedade com a população brasileira, que vem sendo diariamente afetada por
esta política destruidora."
G1
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