04/05/2025
Mãe da atriz Millena Brandão, morta aos 11 anos, critica atendimento da filha em UPA e hospitais
SÃO PAULO, SP - A atriz mirim Millena Brandão, de 11 anos,
morreu na última sexta-feira (2) após passar mal e ser atendida em três
unidades de saúde diferentes em São Paulo. A causa da morte ainda não foi
determinada, e os pais da menina questionam a condução dos atendimentos
médicos. O velório e o enterro serão neste domingo (4). “Os médicos ainda não disseram o que realmente minha filha
teve e o que a matou”, disse a mãe, Thays Brandão, em entrevista ao g1. “Ficou
um ponto de interrogação”. Ela e o marido, Luiz Brandão, também são pais de uma
menina de 2 anos. Por meio de notas, as secretarias da Saúde municipal e
estadual informaram que vão apurar se houve alguma irregularidade no
atendimento a Millena. As pastas não responderam ao g1 qual era o problema de
saúde da paciente nem a causa da morte (saiba mais abaixo). A atriz morreu nove dias depois de começar a sentir fortes
dores na cabeça e na perna, ter sonolência, falta de apetite e desmaiar. Desde
a última quinta-feira (24), ela passou por uma Unidade de Pronto Atendimento
(UPA) municipal e dois hospitais estaduais. Inicialmente, os médicos acharam se tratar de dengue, que
foi descartada. Depois, identificaram infecção urinária num exame. E, por
último, em outro teste, suspeitaram de um possível tumor cerebral, ainda não
confirmado. Carreira artística A morte dela repercutiu nas redes sociais e na imprensa. Com
mais de 180 mil seguidores no Instagram, Millena tinha o desejo de se tornar
uma atriz famosa e postava fotos e vídeos de suas atuações e trabalhos também
como modelo, interagindo com os fãs. Ela fazia parte da Cia Artística En’cena e participou de
novelas como "A infância de Romeu e Julieta" e "A Caverna
Encantada", do SBT, além da produção da Netflix, "Sintonia". Em outubro de 2023, Millena celebrou o início da sua
carreira na emissora de Silvio Santos. "E o sonho se tornou realidade...
Quem acredita sempre alcança", escreveu na legenda de uma foto em frente
ao logo da emissora. Veja abaixo a cronologia de idas e vindas de Millena em
unidades de saúde até a confirmação de morte encefálica, segundo relato dos
pais: Hospital Geral de Pedreira No dia 24 de abril Millena estava com dor de cabeça quando
foi pela primeira vez ao Hospital Geral de Pedreira, na Zona Sul, que é
estadual. "Ela estava com dor de cabeça, mas andava e falava. O médico
disse que era dengue, mas não fez exame. Disse para irmos com ela de volta para
casa e darmos dipirona", lembrou Thays. Em 26 de abril, Milena deixou de desfilar num evento por
continuar a sentir dores. "Começou a se queixar de dor na perna, que não
conseguia andar. Ela não desfilou. A gente foi embora de novo para o Hospital
Pedreira", afirmou a mãe. De acordo com Thays, os exames de sangue não
apresentaram alterações e Millena foi orientada pela equipe médica a retornar
para a residência e repousar. No dia 27 de abril, a família tentou levá-la à igreja, mas a
menina se queixava de dores de cabeça mais fortes, sonolência e falta de
apetite. Voltaram para casa. UPA Maria Antonieta Na noite de segunda-feira (28), Millena conseguiu se
alimentar, mas desmaiou no banheiro de casa. "Corremos para a UPA Maria
Antonieta [também no Grajaú e subordinada à Secretaria Municipal da Saúde].
Chegamos com ela desacordada nos braços do meu marido. Depois, abriu os olhos e
recobrou a consciência", disse Thays. Exames descartaram dengue, Covid e H1N1, segundo os pais.
“Mas disseram que ela estava com infecção urinária”, disse Thays. Ela recebeu
antibióticos, dipirona e, diante da dor persistente, tramal. "Ela colocava a mão na cabeça e gritava de dor",
contou Thays, emocionada. Devido à gravidade do estado de saúde da criança, a
equipe médica decidiu pedir uma vaga para ela na internação de algum hospital
na capital. Ainda segundo a mãe, uma enfermeira teria zombado da filha:
“Falou para ela não gritar que a dor não ia passar assim”. Na manhã do dia seguinte, Millena teve a primeira parada
cardiorrespiratória. “O lábio ficou roxo. Depois a reanimaram e entubaram. A
partir desse dia, ela não acordou mais.” Hospital Geral do Grajaú Millena só conseguiu uma transferência de ambulância da UPA
para o Hospital Geral do Grajaú na manhã de terça-feira (29). "Lá não tinha neurologista. Só foi feita uma
tomografia, e os médicos disseram que viram uma massa de 5 centímetros no
cérebro dela", disse Thays (veja foto acima). "Só que não se sabe se
essa massa era um tumor, um cisto, um edema, um coágulo... porque não
conseguiram abrir a cabeça dela para ver. E agora, que veio o óbito, vão fazer
uma biópsia para saber o que tinha no cérebro dela." Thays lamenta que essa descoberta não tenha ocorrido antes,
quando ela levou a filha a outras unidades de saúde, que poderiam ter
transferido a menina para o Hospital das Clínicas (HC), onde há especialistas
em neurologia. "Se a UPA tivesse transferido ela para o HC, teriam
especialistas em neurologia lá. Tanto que o Hospital do Grajaú quis
transferi-la para o HC", afirmou. Os dias em que Millena ficou internada foram de martírio e
tensão. "Ela teve piora, com duas a três paradas cardíacas por dia. Ela
teve 13 paradas no total. Nunca teve isso antes. Teve um dia em que ela teve
sete paradas respiratórias. Algumas vezes faziam massagens e em outras davam
choque [com o aparelho chamado desfibrilador]", contou a mãe. De acordo com Thays, quando uma vaga foi aberta no HC para
transferi-la para um especialista em neurologia, os médicos do Hospital Geral
do Grajaú avaliaram que seria um risco para a vida dela. "Preferiram
deixar para ver se ela estabilizava, pois o simples manuseio no corpo dela a
fazia ter paradas cardíacas", contou a mãe. Morte encefálica Ainda segundo a mãe, como Millena não acordava e seu estado
não apresentava melhora, os médicos decidiram dar início ao protocolo para
confirmar morte encefálica. "Desde terça, quando ela foi entubada, não abriu mais
os olhos, não teve mais reflexos e não ficou acordada", disse Thays, com a
voz embargada. "Ontem [sexta-feira] os médicos fizeram três exames
nela, o encefalograma, que constatou a morte cerebral. Eles ainda disseram que
iriam esperar o coração dela parar de bater para desligarem os aparelhos",
falou a mãe. Ela e o marido tomaram uma decisão difícil, mas necessária
diante do quadro irreversível da filha. "Eu falei que se fosse para deixar
o coraçãozinho dela parar de bater sozinho, a gente sofreria mais, e ela
também. E pedimos para desligarem os aparelhos." O que dizem as secretarias da Saúde Secretaria Municipal da Saúde: "A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da
Coordenadoria Regional da Saúde (CRS) Sul, lamenta profundamente a perda da
paciente M.M.B. e informa que será aberta sindicância para apuração e
esclarecimento detalhado no atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA)
Dona Maria Antonieta. O atendimento à paciente foi realizado na unidade, às 21h do
dia 28 de abril. Conforme protocolo de Manchester, foi classificada com
prioridade urgente, sendo encaminhada para observação, realizando exames (como
o teste de dengue, que deu negativo) e medicação. Sem apresentar melhora clínica,
foi solicitada às 07h59, do dia 29 de abril, a transferência via Sistema
Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo (SIRESP). Após sinalização da equipe para a regulação sobre gravidade
do caso, às 10h54, a vaga foi concedida pelo Hospital Geral do Grajaú e a
paciente foi transferida. A direção da Unidade permanece à disposição para o
que for necessário." Secretaria de Estado da Saúde: "O Hospital Geral de Pedreira lamenta o ocorrido, se
solidariza com a família da paciente M.B. e está à disposição para prestar
informações sobre o caso. A unidade apurará a conduta médica adotada durante o
atendimento. O hospital informa que, durante a permanência da paciente na
unidade, o atendimento, que ocorreu em 26 de abril, foi realizado conforme sua
condição clínica. Ela foi avaliada pela pediatra de plantão e medicada de
acordo com os sintomas relatados." E, a respeito do Hospital Geral do Grajaú, a pasta
estadual da Saúde informou o seguinte: "O Hospital Geral do Grajaú informa, com profundo
pesar, que foi confirmada, às 16h55 de hoje (02), a morte encefálica da
paciente Millena Brandão, que deu entrada nesta unidade em estado gravíssimo no
dia 29/04/2025, transferida da Unidade de Pronto Atendimento Maria Antonieta
(UPA). Desde a sua chegada, a paciente recebeu cuidados intensivos
e todo o empenho da equipe médica e assistencial, que não mediu esforços para
preservar sua vida. A confirmação do diagnóstico ocorreu após rigoroso
cumprimento do protocolo estabelecido para esses casos. A família esteve acompanhando cada etapa do cuidado, sendo
mantida informada com respeito, acolhimento e todo o apoio necessário neste
momento de profunda dor. Nos solidarizamos com os familiares e reafirmamos nosso
compromisso com um cuidado digno e humano."
g1, com fotos: Reprodução/Arquivo Pessoal
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