12/05/2025
Lula assina acordos com a China, maior parceiro comercial do Brasil, de mais de R$ 27 bilhões
PEQUIM, CHINA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
anunciou que a China investirá mais R$ 27 bilhões no Brasil. Por estarem
focados especialmente nas áreas de infraestrutura e tecnologia, os
investimentos abrangerão também a área de educação, uma vez que será necessária
ampla formação de profissionais, até mesmo para garantir a cadeia de
suprimentos ainda a ser demandada. Lula está em viagem oficial a Pequim, onde participou do
Fórum Empresarial Brasil-China, com investidores chineses e brasileiros. O fluxo comercial entre os dois países é de cerca de US$ 160
bilhões, informou a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (ApexBrasil). Segundo o Palácio do Planalto, os recentes encontros
contribuíram para ampliar ainda mais os investimentos chineses no Brasil. Os
novos acordos preveem investimento de US$ 1 bilhão na produção de combustível
renovável para aviação (SAF), a partir da cana-de-açúcar, e a criação de um
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na área de energia renovável. Discurso presidencial Na madrugada desta segunda-feira (12), durante o discurso de
encerramento do fórum, Lula destacou que a relação entre Brasil e China não é
uma “relação comum”, mas uma relação de “dois países que têm compromisso de
resolver o problema do empobrecimento que martelou a vida de ambos"
durante muito tempo. “É notável que a China tenha tirado, em 40 anos, 800 milhões
de pessoas da pobreza. Como é notável que o Brasil, em apenas 10 anos, tenha
tirado 54 milhões de pessoas que passavam fome no meu país”, afirmou Lula. Para o presidente brasileiro, tais feitos são consequência
da inclusão de uma parcela significativa da população na economia desses
países. Brasil e China são “parceiros estratégicos e atores
incontornáveis” no atual contexto geopolítico, em meio ao “ressurgimento de
tendências protecionistas”, disse Lula, referindo-se à recente política
comercial adotada pelos Estados Unidos. “Nós apostamos na redução das barreiras comerciais e
queremos mais integração”, afirmou. Ainda de acordo com Lula, os dois países
têm ainda o desafio de ampliar o intercâmbio de turistas, e que, para tanto,
estão previstas novas conexões aéreas entre os dois países. Colhendo frutos O presidente brasileiro lembrou que, em novembro do ano
passado, durante encontro com o presidente da China, Xi Jinping, foram
estabelecidas sinergias entre os projetos de desenvolvimento dos dois países.
“Hoje, colhemos os primeiros frutos desse trabalho”, disse Lula, ao enumerar
uma série de projetos que avançaram, desde então. “O Centro Virtual de Pesquisa e Desenvolvimento em
Inteligência Artificial, fruto da parceria entre Dataprev e Huawei, será
essencial para o desenvolvimento de aplicações em agricultura, saúde, segurança
pública e mobilidade. A parceria da Telebras com a Spacesail ampliará a oferta
de satélites de baixa órbita e levará a internet a mais brasileiros,
principalmente aos que vivem em áreas mais remotas”, destacou. Os acordos na área da saúde também foram citados pelo
presidente, tanto no discurso quanto nas redes sociais. Foram oito acordos
prevendo transferência de tecnologia na produção de medicamentos, insumos
farmacêuticos ativos, vacinas e equipamentos médicos. O chefe do governo brasileiro destacou também a cooperação
entre o Senai Cimatec e a Windey, que resultará na instalação de um Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento em energia solar, eólica e sistemas de
abastecimento. “A experiência chinesa de refino de minerais críticos
contribuirá para valorizar a produção em nosso território, inclusive com
transferência de tecnologia nos ciclos de montagem de baterias elétricas.
Possuímos reservas abundantes em terras raras, lítio, nióbio, cobalto, cobre,
grafite, urânio e tório”, discursou Lula. Infraestrutura Sobre a área de infraestrutura, o presidente lembrou que o
Corredor Ferroviário Leste-Oeste vai interligar o Brasil. “Será um empreendimento fundamental para a logística
brasileira e um dos mais transformadores para a garantia da segurança alimentar
do mundo”, disse. “Conectar os oceanos Atlântico e Pacífico, por meio de cinco
rotas de integração, facilitará o intercâmbio comercial e levará mais
desenvolvimento para o interior do continente sul-americano. As rotas
bioceânicas encurtarão a distância entre Brasil e China em aproximadamente 10
mil quilômetros”, acrescentou. Educação e formação profissional Lula argumentou que os avanços tecnológicos pretendidos por
meio das parcerias entre China e Brasil criarão uma demanda por profissionais
especializados, o que requer investimentos também na área de educação. “É importante lembrar que a gente não vai conseguir ser
competitivo no mundo tecnológico, no mundo digital, se não investir na
educação; se não investir em engenharia, matemática. O ideal para o Brasil não
é ficar exportando [apenas] soja. É exportar inteligência e conhecimento”,
disse. O presidente ressaltou, porém, que, para isso, não tem
milagre. "Temos de investir em educação, como os chineses fizeram.
Pergunte aos chineses quantos milhões de engenheiros eles formaram nos últimos
anos. Daí essa revolução tecnológica [com] que os chineses se apresentam diante
do mundo.” Tecnologia das commodities Dirigindo-se àqueles que reclamam que o Brasil só exporta
commodities (bens primários), como produtos agrícolas e minério de ferro, Lula
reiterou que tais exportações são positivas para o Brasil, mas observou que
esse tipo de limitação decorre da falta de investimentos em educação. “O Brasil precisa dar graças a Deus por estar exportando
agronegócio, porque também é preciso a gente saber quanto de tecnologia tem
hoje em um grão de soja. E quanto de engenharia genética tem em um quilo de
carne ou de frango, porco ou em um saco de milho”, argumentou. “Temos que exportar agronegócio e utilizar esse dinheiro que
entra para investir em educação, para podermos ser competitivos com a China na
produção de carro elétrico, na produção de baterias, na construção de
inteligência artificial. Ninguém vai dar isso de graça para nós brasileiros”,
concluiu.
Pedro Peduzzi/Nádia Franco – Agência Brasil, com foto: Ricardo Stuckert/PR
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