14/05/2025
Câmara de Campina Grande reforça combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas
CAMPINA GRANDE, PB - A Câmara Municipal de Campina Grande
realizou uma audiência pública, proposta pela vereadora Jô Oliveira, tendo como
tema central o combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas, reforçando
o compromisso do legislativo com a promoção dos direitos humanos e a justiça
social. Jô Oliveira justificou sua propositura refletindo sobre o
significado do 13 de maio, enfatizando que a data não deve ser encarada como um
momento de celebração. Para a parlamentar, ainda é necessário superar os
efeitos da escravização, considerando que a abolição da escravatura não
assegurou a reparação histórica devida ao povo negro. Jô destacou que é alarmante ainda ser necessário discutir
situações de trabalho análogo à escravidão e o tráfico de pessoas, tanto em
áreas urbanas quanto rurais. Relatou que pouco tempo após assumir seu mandato,
uma mulher negra foi resgatada em condições de trabalho análogo à escravidão
nas imediações da própria Câmara Municipal, o que evidencia a persistência
dessa realidade no país e na cidade de Campina Grande. Para ela, é fundamental
reconhecer essas violações como resultado de uma estrutura social desigual e
agir coletivamente, por meio dos órgãos competentes e entidades comprometidas,
para combater essa realidade. Na participação da tribuna, o senhor George Falcão, Juiz do
TRT -13 e Co- Gestor do Programa de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, ao
Tráfico de pessoas e Proteção ao Trabalho do Imigrante, falou sobre uma
publicação nas redes sociais do tribunal que apresenta a linha do tempo desde a
abolição da escravatura até os dias de hoje, onde aponta que só com a
Constituição Federal de 1988 o Brasil começou a tratar o tema esse com
seriedade, depois em 1995 com a criação dos grupos móveis de combate ao
trabalho escravo e só em 2023 houve uma repaginação do crime que era previsto
no Código Penal Brasileiro com um maior detalhamento. Apresentando como
aspectos positivos, falou sobre ações mais recentes como a criação do programa
de enfrentamento e a elaboração de um protocolo de ação de julgamento para
juízes, procuradores e advogados de trabalho que estabelece que seja praticada
uma justiça adaptada à pessoa escravizada. Dra Ivonildes da Silva Fonseca, Vice-Reitora da UEPB, falou
sobre o contentamento no dia de hoje diante da força da organização das pessoas
que realizam esse enfrentamento e acrescentou que a data 13 de maio foi
ressignificada, se tornando o Dia da Denúncia Nacional contra o Racismo. Ela
também reforçou que tratando desse tema, se encontram as facetas do racismo.
Marcela Asfora, Procuradora do Ministério Público do Trabalho, apresentando
dados da Paraíba informou que de 1995 a 2025, 761 paraibanos foram resgatados
em situação de trabalho escravo. Do total, 190 foram resgatados entre 2023 e
2025 e apenas 05 foram resgatados fora da Paraíba. De acordo com Marcela,
pedreiras e construção civil são os que mais têm afetado esses trabalhadores. Liberalino Ferreira de Lucena, Presidente da FETAG-PB,
organização que representa os trabalhadores rurais, enfatizou a Reforma Agrária
e a situação em que muitos assentados vivem, diante do descumprimento do que a
lei garante no que se refere à oferta de condições básicas. Janaina Andrade de
Souza, Procuradora da República, acrescentou que considerando o recorte racial
e de gênero, são as mulheres negras que mais sofrem com o tráfico de pessoas,
seja para exploração sexual ou trabalho doméstico. Ela concluiu solicitando que
todos se envolvam no enfrentamento dessa causa. Glória Rejane Santos, Presidente do Sindicato das
Trabalhadoras Domésticas (PB) e Diretora da FENATRAD, como sindicalista e
atendendo essas mulheres, falou sobre o massacre que ainda enfrentam, sofrendo
humilhações de um pensamento ainda escravocrata. Emanuella Melo, Defensora
Pública Federal da DPU, ressaltou que é um dia de memória, resgate e de luta,
tanto de pessoas que foram vítimas, como também de olhar para frente, traçando
cenários para que situações como as que foram relatadas não se repitam. Ela
também reforçou que a voz precisa ser ecoada por meio das instituições e
entidades e que sejam realizadas as denúncias das situações para que a
defensoria possa fazer o seu papel. Vanubia Martins da Comissão Pastoral da Terra, falou sobre o
papel da comissão, que há 30 anos acompanha, denúncia e registra os
trabalhadores escravizados e informou que em 2024 foram resgatadas 30 pessoas
em situação de escravidão na mineração e 36 pessoas na construção civil. Ela
também falou que se antes éramos exportadores de mão de obra escrava, agora com
o aumento de investimentos e vagas de postos de trabalho na Paraíba, as pessoas
estão sendo escravizadas aqui. Thiago Cavalcanti, Procurador do Ministério Público do
Trabalho, disse que embora aproximadamente 50 mil pessoas tenham sido
resgatadas nos últimos 30 anos, dados da ONG Free World Foundation indicam que,
atualmente, cerca de 400 mil pessoas vivem em condições análogas à escravidão
no país — um crescimento significativo em relação aos 150 mil casos registrados
em 2012. Ele reforçou que a prevenção deve estar atrelada ao combate à
desigualdade social, à redistribuição de riqueza, à garantia plena de direitos
trabalhistas e sociais, além do enfrentamento ao autoritarismo nas relações de
trabalho. Para o procurador, esses são elementos essenciais para consolidar uma
sociedade verdadeiramente democrática e justa. Renato Gama, representando OAB (subseção Campina Grande),
destacou que a assinatura da Lei Áurea, embora tenha formalizado o fim da
escravidão no Brasil, deixou milhares de pessoas sem qualquer estrutura social.
Ele ressaltou que o pagamento de salários não deve ser visto como o único fator
de dignidade, mas sim como parte de um conjunto maior de garantias previstas na
Constituição Federal. Renato também defendeu uma atuação firme do Poder
Judiciário e o aprimoramento constante da legislação trabalhista, para que esta
seja cada vez mais rigorosa e eficiente na preservação da dignidade humana. O vereador Alexandre Pereira destacou a importância da
apresentação de uma proposta legislativa de sua autoria que autoriza a
equiparação dos direitos dos prestadores de serviço da Prefeitura de Campina
Grande, no que diz respeito à licença-maternidade. Ele ressaltou a disparidade
existente, em que mães servidoras efetivas têm direito a seis meses de licença,
enquanto as prestadoras contam apenas com quatro meses. Ao final, parabenizou a
vereadora autora da proposta pela iniciativa. Também aconteceram outras participações na tribuna de
vereadores e de pessoas presentes no plenário, representando diversos órgãos,
entidades e instituições que fazem o enfrentamento ao trabalho escravo e
tráfico de pessoas. A vereadora Jô Oliveira encerrou a sessão, ressaltando que
a mobilização em defesa dos direitos humanos e da classe trabalhadora deve
continuar nos mais diversos âmbitos.
DIVICOM/CMCG, com foto: Josenildo Costa/CMCG
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