02/07/2025
Lula anuncia conversa com Alcolumbre e Motta para “voltar a normalidade política nesse país”
SALVADOR, BA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está
em Salvador, onde cumpre agenda de celebração da Independência do Brasil na
Bahia. De lá, ele viajará a Buenos Aires, para participar da Cúpula do
Mercosul, que ocorre nesta quinta-feira (3). Na sequência, o presidente segue
para o Rio de Janeiro, onde preside a Cúpula do Brics. “Quando eu voltar, eu, tranquilamente, vou conversar com o
Hugo, com o [presidente do Senado] Davi Alcolumbre e vamos voltar à normalidade
política nesse país”, destacou. Lula afirmou nesta quarta-feira (2) que os interesses de poucos
grupos econômicos prevalecem no Congresso Nacional, em detrimento do conjunto
da população brasileira. Lula defendeu a decisão do governo de recorrer à
Justiça contra a derrubada, pelo parlamento, do decreto que aumentou alíquotas
do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). “Se eu não entrar com um recurso no Poder Judiciário, se eu
não for à Suprema Corte, ou seja, eu não governo mais o país. Esse é o
problema. Cada macaco no seu galho. Ele [Congresso] legisla, e eu governo”,
disse em entrevista à TV Bahia, em Salvador (BA). “Nós não estamos propondo aumento de imposto, nós estamos
fazendo um ajuste tributário nesse país para que os mais ricos paguem um pouco
para que a gente não precise cortar dinheiro da educação e da saúde. Houve uma
pressão das bets, das fintechs, eu não sei se houve pressão do sistema
financeiro. O dado concreto é que os interesses de poucos prevaleceram dentro
da Câmara e do Senado, o que eu acho um absurdo”, acrescentou. Lula afirmou que, ao pautar a derrubada do decreto do IOF, o
presidente da Câmara, Hugo Motta, descumpriu um acordo que havia sido feito com
o Executivo, sobre medidas compensatórias. A decisão foi anunciada por Motta
horas antes da votação, em postagem nas redes sociais, na semana passada. Para o presidente Lula, essa decisão foi absurda; ainda
assim, ele afirma que não há rivalidade com o Congresso. “O presidente da
República não rompe com o Congresso, o presidente da República reconhece o
papel que o Congresso tem. Eles têm os seus direitos, eu tenho os meus
direitos. Nem eu me meto no direito deles nem eles se metem no meu direito. E,
quando os dois não se entenderem, a Justiça resolve”, disse. “O presidente da República tem que governar o país e decreto
é uma coisa do presidente da República. Você pode ter um decreto legislativo
quando você tem alguma coisa que fira muito a Constituição, o que não é o caso.
O governo brasileiro tem o direito de propor IOF, sim”, defendeu na entrevista. Nessa terça-feira (1º), a Advocacia-Geral da União (AGU)
protocolou ação declaratória de constitucionalidade junto ao Supremo Tribunal
Federal (STF), a pedido do presidente Lula e com base em estudo técnico e
jurídico solicitado ao órgão na semana passada. O relator do caso será o
ministro Alexandre de Moraes. Entenda O decreto elaborado pelo Ministério da Fazenda aumentava o
IOF para operações de crédito, de seguros e de câmbio, com o objetivo de
reforçar as receitas do governo e atender às metas do arcabouço fiscal. A
maioria dos parlamentares, entretanto, não concordou com a elevação das
alíquotas e tem cobrado o corte de despesas primárias. “Como é que você pode falar em corte de gasto, de despesa,
querendo mexer na educação?”, questionou Lula, sobre a proposta de
desvinculação dos pisos da saúde e da educação, que os valores mínimos que
devem ser investidos nessas áreas. O governo alegou que o aumento do IOF é necessário para
evitar mais cortes em políticas sociais e maiores contingenciamentos que podem
afetar o funcionamento da máquina pública. Além disso, segundo o Ministério da
Fazenda, as regras do decreto corrigiam injustiças tributárias de setores que
não pagam imposto sobre a renda. “Você sabe qual foi a proposta que eu fiz? É que a gente
possa cortar 10% linear em todos os benefícios fiscais. Você sabe quanto que
tem de isenção e desoneração nesse país? Sabe quanto que se deixa de pagar
imposto nesse país? R$ 860 bilhões. Se você tirar 10% linear, o cara que tem
100% vai ficar com 90%. Ele vai continuar rico. Vai continuar tendo benefício.
E você não precisa cortar dinheiro da educação ou da saúde”, argumentou Lula. “Nós temos que cortar em quem tem gordura, temos que fazer
uma bariátrica em quem tem muita gordura para que a gente possa atender as
pessoas mais necessitados”, acrescentou. Entre as medidas propostas pelo governo no decreto estão o
aumento da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) tanto
das apostas eletrônicas, as chamadas bets, de 12% para 18%; quanto das
fintechs, de 9% para 15%, igualando aos bancos tradicionais. Também há a
previsão da taxação das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito
do Agronegócio (LCA), títulos que atualmente são isentos de Imposto de Renda. Antes mesmo da derrubada do decreto, o governo editou, no
início de junho, uma medida provisória (MP) com aumento de tributos para bets
(empresas de apostas) e para investimentos isentos. A ideia da MP era atender
uma pressão do próprio Congresso. A medida provisória também prevê o corte de
R$ 4,28 bilhões em gastos obrigatórios neste ano. Em troca, o governo
desidratou o decreto do IOF, mas o decreto foi derrubado pelo Congresso da
mesma forma.
Andreia Verdélio/Aécio Amado, com foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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