26/04/2021
Comissão da Assembleia debate luta por reconhecimento da mulher com deficiência na Paraíba
JOÃO PESSOA, PB - A Comissão de Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) promoveu,
nesta sexta-feira (23), o debate: Mulher com deficiência e feminismo – a luta
por reconhecimento. A discussão foi proposta pela deputada Cida Ramos e contou
com a participação mulheres que possuem algum tipo de deficiência, que discutiram
os desafios profissionais, sociais e afetivos que enfrentam. A roda de diálogo aconteceu de forma virtual e reuniu
professoras, políticas, ativistas, donas de casa, entre outras. A deputada Cida
Ramos destacou que o movimento feminista precisa se aproximar das mulheres com
deficiência, pois trata-se de um caminho de mão dupla, que precisa se estreitar
para que possam ser ecoadas as vozes que vêm de todos os municípios. A deputada
avaliou que as mulheres com deficiência querem estar nas discussões, querem
participar dos debates e ter voz nos movimentos feministas. “Estamos fazendo história, estamos ocupando um espaço
fundamental na história das pessoas com deficiência, que é o espaço da
política, o espaço de discutir políticas públicas, pois a política é algo que
interessa, que diz respeito e que deve
ser ocupada pelas mulheres e homens com deficiência e meu papel é o de trazer
mais mulheres com deficiência para a política”, argumentou a deputada. Cida acrescentou ainda que as verdadeiras limitações se
encontram, na verdade, no poder público, na ausência de planejamento de uma
cidade, de um estado e de um país, que acolha os deficientes. “O lugar da
mulher, especialmente da mulher com deficiência, é onde ela quiser estar. A
nossa deficiência não determina quem somos. Nós queremos uma João Pessoa e
todos os municípios do estado acessíveis e inclusivos”, concluiu a deputada. Em sua fala, a advogada Mércia Morais, membro da Comissão da
Pessoa com Deficiência da OAB e coordenadora do Movimento de Mulheres com
Deficiência da Paraíba (MUDE), defendeu a proteção às mulheres com deficiência,
especialmente em relação ao assédio e violência. “Quando se é criança com
deficiência, somos apenas crianças. A deficiência não aparece. Mas, quando
crescemos, além das dificuldades enfrentadas por sermos mulheres, ainda
precisamos lutar contra o preconceito a pessoas com deficiência”, disse. Mércia revelou que, além dos desafios e limitações trazidos
pela deficiência, ainda foi vítima de assédios e, através de seu trabalho,
identificou essa realidade em outras mulheres e reforçou a importância de
denunciar casos de violência. “Eu sofri muito assédio e, conversando com outras
mulheres com deficiência, percebi que é uma realidade de todas. Alguns homens
nos encaram como escravas. E, com essa situação prisioneira, muitas mulheres
com deficiência sofrem, mas não conseguem denunciar”, revelou a advogada. A presidenta do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência
da Paraíba, Suzy Belarmino, destacou que o feminismo ainda não se apoderou das
questões das mulheres com deficiência, ao mesmo tempo em que as mulheres com
deficiência, por manterem o foco em suas lutas, não se aproximam do feminismo.
Desta forma, na avaliação de Suzi, é necessário que as duas agendas de luta se
unam para traçar políticas públicas em comum a ambas. “Precisamos de mais
mulheres com deficiência no movimento feminista e que o movimento feminista
chegue até nós também”, sugeriu a presidente do Conselho Estadual da Pessoa com
Deficiência da Paraíba. Eleita a primeira parlamentar surda da Paraíba, a vereadora
do município de Araçagi, Ana Kelly, disse estar muito feliz por participar do
debate promovido pela Assembleia Legislativa em torno de uma causa tão
relevante. Diagnosticada surda ainda na infância, Ana Kelly recordou que passou
por muitas dificuldades por não conseguir se comunicar, sofrendo inclusive com
a depressão e com a dificuldade em não encontrar profissionais da saúde que
entendessem a língua de sinais para ajudá-la no tratamento. Atualmente, a parlamentar busca ensinar, através da
comunicação visual, às pessoas que, assim como ela, têm enfrentado muitos
desafios e superado obstáculos. “Hoje tenho voz e tenho conquistado meu espaço.
Entrei na política por incentivo do meu pai. A família toda se envolveu. Temos
que lutar pela igualdade. As pessoas deficientes precisam ser vistas, não temos
LIBRAS nas escolas, não temos acessibilidade. Quero fazer a diferença e iremos
lutar pelos direitos da pessoa com deficiência”, garantiu a vereadora.
A reunião foi mediada pela ativista pelos direitos das
mulheres e professora adjunta da UFPB, Anita Leocádia Pereira, e contou com a
participação da estudante de psicologia e apoiadora das causas sobre as pessoas
com deficiência, Roberta Braz; da coordenadora do Fórum Paraibano de Luta da
Pessoa com Deficiência, Carolina Vieira; da funcionária pública Marina
Felismina; da pedagoga Jocelma dos Santos; da representante da Associação de
Surdos de João Pessoa, Elisângela Araújo; e da modelo e ‘digital influencer’
Mariah Santos. Assessoria
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