07/09/2025
Defesas dos réus da trama golpistas usam estratégia para tentar reduzir penas
BRASÍLIA, DF - As defesas dos réus do núcleo crucial da
trama golpista, que estão sendo julgados pela Primeira Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF), pediram aos ministros que o crime de golpe de Estado
absorva o crime de abolição do Estado Democrático de Direito. O objetivo dos advogados é diminuir a pena total, caso os
réus sejam condenados. No entanto, já há decisões anteriores do STF
diferenciando esses dois crimes. Na próxima semana, os cinco ministros da Primeira Turma vão
decidir se condenam ou absolvem os oito réus do núcleo 1, entre eles o
ex-presidente Jair Bolsonaro. Há sessões marcadas de terça a sexta-feira, pois há a
expectativa de que os votos sejam longos e complexos. Os pedidos das defesas seguem uma gradação: - Primeiro, apontam aspectos que entendem ser nulidades,
para tentar invalidar o processo. - Se não conseguirem, os advogados pedem a absolvição dos
réus. - Em último caso, se houver condenação, pedem que as penas
sejam pequenas. É nesse contexto que defesas como as de Bolsonaro e do
general Braga Netto sustentam que o crime de golpe deve absorver o de abolição
do Estado Democrático de Direito — o que é chamado no direito de consunção.
Para os defensores, os fatos supostamente criminosos são os mesmos nos dois
casos. O Código Penal diferencia assim: - abolição do Estado Democrático de Direito é "tentar,
com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de
Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais". A pena é de 4 a 8 anos de prisão; - golpe de Estado é "tentar depor, por meio de
violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído". A pena é
mais grave: de 4 a 12 anos de prisão. A própria descrição do crime estabelece que ele acontece
quando é tentado ("tentar abolir"; "tentar depor"). A lei é
assim porque, se o crime fosse consumado, não haveria julgamento, já que não
haveria mais democracia. PGR pede soma das penas A Procuradoria-Geral da República (PGR), que quer que as
penas dos dois crimes sejam somadas, afirma que "existem atos que se
inserem unicamente em um dos tipos penais, evidenciando a existência de
desígnios distintos". O procurador-geral, Paulo Gonet, cita como exemplo: "o
manejo da PRF [Polícia Rodoviária Federal] para prejudicar o processo
sucessório", que para a PGR se encaixa apenas no crime de golpe de Estado;
e "a mobilização da AGU [Advocacia-Geral da União] para invalidar decisões
do Supremo", que segundo a PGR é abolição do Estado Democrático de
Direito. Em março, ao analisar a denúncia contra os acusados e abrir
a ação penal, o ministro Alexandre de Moraes demonstrou concordar com a tese da
PGR de que os dois crimes são caracterizados por condutas diferentes. Moraes citou um exemplo ocorrido na Polônia, "quando o
presidente e o Parlamento polonês atentaram contra o Tribunal
Constitucional" alterando a idade de aposentadoria para retirar da Corte
cinco juízes contrários a medidas inconstitucionais. "Trata-se de um atentado contra um dos Poderes, mas não
de um golpe de Estado", afirmou.
g1, com foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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