06/05/2021
Butantan diz que novas declarações de Bolsonaro sobre a China podem afetar entrega de vacinas
SÃO PAULO, SP - O Instituto Butantan pode atrasar entregas
da CoronaVac, vacina contra a covid-19 feita em parceria com o laboratório
chinês Sinovac, ao Ministério da Saúde por falta de insumo farmacêutico ativo
(IFA) importado da China. O presidente da instituição, Dimas Covas, atribuiu o
possível atraso à a postura do governo Jair Bolsonaro em relação ao país
asiático. Bolsonaro insinuou em discurso, na quarta-feira, 5, que o
novo coronavírus, causador da covid-19, pode ter sido criado pela China como
parte de uma "guerra bacteriológica", nas palavras do presidente.
Recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em uma reunião, que
ele não sabia que estava sendo gravada, que o coronavírus teria sido criado por
chineses. Em entrevista coletiva para marcar a entrega de uma remessa
de 1 milhão de doses da vacina ao Programa Nacional de Imunização (PNI) do
ministério, Covas afirmou que o atraso na chegada do IFA não se deve a
problemas na produção da Sinovac, que envia a matéria-prima ao Brasil para o Butantan
envasar doses da vacina, mas à demora na autorização de envio pelo governo
chinês. Dimas Covas disse que as declarações recentes contrárias à
China vindas de autoridades do governo federal têm dificultado a liberação das
remessas de IFA pelo governo chinês. "Embora a Embaixada da China no Brasil venha dizendo
que não há esse tipo de problema, a nossa sensação, de quem está na ponta, é de
que existe dificuldade. Uma burocracia que está sendo mais lenta que o habitual
e autorizações com volumes cada vez mais reduzidos. Isso obviamente tem
impacto, essas declarações têm impacto e nós ficamos à mercê dessa
situação", disse. "Nós temos que entregar até o dia 14 o restante - que
vai totalizar 5 milhões de doses - do IFA de 3 mil litros e, após isso, não
temos mais matéria-prima para processar... Pode faltar? Pode faltar, e aí nós
temos que debitar isso principalmente ao nosso governo federal, que tem remado
contra." Apesar das insinuações feitas por Bolsonaro, criticadas por
parlamentares como o presidente da CPI da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM),
e o presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato
(PP-SP), uma investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a
origem mais provável do novo coronavírus foi um mercado em Wuhan, na China, e
que o vírus pode ter passado de um morcego para um outro animal que o
transmitiu a humanos. Também presente na entrevista coletiva, realizada na sede do
Butantan na zona oeste de São Paulo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB),
desafeto de Bolsonaro, cobrou que o recém-nomeado ministro das Relações
Exteriores, Carlos França, atue para desfazer o que chamou de "profundo
mal-estar" gerado pelas declarações do presidente e para liberar o IFA
tanto para o Butantan quanto para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também
usa matéria-prima importada da China no envase da vacina da AstraZeneca. "Ele é o chanceler. Ele é quem tem que falar com o
embaixador da China no Brasil. Ele é quem tem que falar com o embaixador do
Brasil em Pequim e tomar providências. Até agora eu não vi, não ouvi e não tive
nenhuma informação de medidas tomadas pelo Ministério de Relações
Exteriores", disse Doria. Novas entregas O Butantan esperava para a primeira quinzena de maio a
chegada de um lote de 6 mil litros de IFA da China, mas Covas disse que a
expectativa é que somente 2 mil litros cheguem ao País até o dia 13. Ele afirmou que na semana que vem o Butantan prevê entregar
3 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde e alertou que, uma vez
processado o lote de 3 mil litros, equivalentes a 5 milhões de doses, que
chegou em 19 de abril, o Butantan não terá IFA para envasar doses. Com a entrega desta quinta, o Butantan enviou 43,05 milhões
de doses da CoronaVac ao PNI.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a CoronaVac
responde atualmente por 75,3% das vacinas contra covid-19 já aplicadas no
Brasil. Estadão
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