09/01/2025
Recado a Zuckerberg: Moraes diz que redes sociais continuarão a atuar no Brasil se respeitarem a lei
BRASÍLIA, DF - Um dia após o magnata Mark Zuckerberg - dono
do grupo Meta, que controla o WhatsApp, o Instagram e o Facebook - anunciar que
vai abolir a checagem de conteúdo e quer tornar mais permissiva a moderação de
postagens dos usuários, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), declarou que a corte “não vai permitir que as big techs, as
redes sociais, continuem sendo instrumentalizadas, dolosa ou culposamente, ou
ainda somente visando lucro, instrumentalizadas para ampliar discursos de ódio,
nazismo, fascismo, misoginia, homofobia e discursos antidemocráticos”. Segundo o ministro, “a nossa justiça eleitoral e o nosso
Supremo Tribunal Federal já demonstraram que aqui é uma terra que tem lei. As
redes sociais não são terras sem lei. No Brasil só continuarão a operar se
respeitarem a legislação brasileira, independentemente de bravatas de
dirigentes irresponsáveis das big techs.” Em outubro, a rede social X, do bilionário Elon Musk, pagou
R$ 28,6 milhões de multa após a sua plataforma ficar fora do ar no Brasil por
dois meses devido ao descumprimento da ordem do próprio Moraes de bloquear
algumas contas. O empresário Elon Musk se aproximou do presidente eleito dos
Estados Unidos Donald Trump durante a campanha eleitoral do ano passado. Ao
anunciar o relaxamento de controle e moderação de suas plataformas, Mark
Zuckerberg também sinalizou para Trump. Como registrado pela Agência Brasil, Zuckerberg informou que
vai “trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos ao redor do
mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando para censurar
mais.” O dono da Meta ainda afirmou que países latino-americanos têm “tribunais
secretos que podem ordenar que empresas retirem coisas discretamente.” Na avaliação do ministro Moraes, que é relator dos inquéritos
sobre notícias falsas, milícias digitais e golpe de Estado, o país tem como
desafio “não permitir que esses gigantes conglomerados, que são as big techs,
com seus dirigentes irresponsáveis, por achar que por terem dinheiro podem
mandar no mundo, o desafio de regulamentar, responsabilizar.” 8 de janeiro Para o magistrado a “grande causa” de atos violentos e
antidemocráticos como o 8 de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes foi a
disseminação de mentiras e a mobilização de massa promovida pelas redes
sociais. “Tudo isso surgiu a partir do momento que no mundo, não só
no Brasil, a partir do momento que no mundo extremistas, e principalmente
extremistas de direita, radicais de direita, se apoderaram das redes sociais
para nelas ou com elas instrumentalizarem as pessoas no sentido de corroer a
democracia por dentro. O que esse novo populismo extremista digital faz é
corroer a democracia por dentro.” As declarações de Alexandre de Moraes foram feitas durante a
“roda de conversa” realizada no STF para tratar da importância da democracia no
início da tarde desta quarta-feira. Também presente no evento, o ministro
Gilmar Mendes afirmou que “naquele 8 de janeiro, o extremismo e a intolerância
atingiram seu ápice, quando uma turba insana invadiu as sedes dos Três Poderes
em Brasília, incitada por ampla mobilização nas redes sociais.” Gilmar defendeu o que chama de “constitucionalismo digital”,
princípio legal que “consagra a proteção dos direitos fundamentais na esfera
digital e impõe às redes sociais um dever de cuidado quanto à disseminação de
conteúdos ilícitos.” Para ele, “essa trajetória normativa jamais poderá ser
confundida com censura. Não é censura.” O ministro acredita que o constitucionalismo digital
“representa não apenas uma evolução jurídica, mas constitui a pedra angular
sobre a qual se erige uma esfera digital democrática e pluralista, capaz de
harmonizar a liberdade de expressão com a responsabilidade social no ambiente
virtual.”
Gilberto Costa/Aline Leal, com foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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