23/08/2025
Bolsonaro nega tentativa de fuga e diz que pedido de asilo em celular era apenas “rascunho”
BRASÍLIA, DF - A defesa de Jair Bolsonaro disse nesta
sexta-feira (22) ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente não
solicitou pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. Os
advogados também negaram que o ex-presidente tenha a intenção de fugir do
país. A manifestação foi enviada ao Supremo após o ministro
Alexandre de Moraes conceder, na quarta-feira (20), prazo de 48 horas para os
advogados se manifestarem sobre o documento de asilo encontrado pela Polícia
Federal no celular de Bolsonaro durante busca e apreensão realizada, no mês
passado, dentro da investigação sobre as sanções dos Estados Unidos contra o
Brasil. Segundo a PF, o documento estava salvo no aparelho desde
2024. De acordo com a defesa, o documento era um
"rascunho", e a solicitação de asilo não ocorreu. "A autoridade policial evidentemente sabe – posto que
cediço – que para se aventar de uma prisão preventiva é preciso haver fato
contemporâneo. Mas, ainda assim, tem apenas um documento, que reconhece ser
mero rascunho antigo enviado por terceiro, além da indeclinável constatação de
que o tal pedido não se materializou!", disse a defesa. Os advogados também aproveitaram para solicitar a revogação
da prisão domiciliar de Bolsonaro. "Prestados os esclarecimentos solicitados,
aproveita-se para requerer a reconsideração no que toca à decisão que
determinou a prisão domiciliar, ou caso Vossa Excelência assim não entenda, o
julgamento urgente do agravo regimental interposto pela defesa no último dia 06
de agosto", argumenta a defesa. A defesa também reiterou que o ex-presidente sempre cumpriu
as cautelares determinadas pelo STF, como proibição de deixar o país e de não
utilizar suas redes sociais e de terceiros. “Fato é que, com ou sem o rascunho, o ex-presidente não
fugiu. Pelo contrário, obedeceu a todas as decisões emanadas pela Suprema
Corte, inclusive a que o proibia de viajar ao exterior, respondeu à denúncia
oferecida, compareceu a todas as audiências, sempre respeitando todas as
ordens”, disseram os advogados. Bolsonaro e o filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP),
foram indiciados pela PF no inquérito das sanções dos Estados Unidos. Após
receber o relatório de indiciamento, Moraes enviou o caso para a
Procuradoria-Geral da República (PGR). Caberá ao órgão decidir se Bolsonaro e Eduardo serão
denunciados ao STF. Desde o início deste mês, Bolsonaro cumpre prisão
domiciliar. Braga Netto A defesa de Bolsonaro também se manifestou sobre outras
acusações que constam no relatório no qual a PF indicou o ex-presidente, como o
recebimento de uma mensagem de SMS do general Braga Netto, que estava proibido
de entrar em contato com Bolsonaro. Para os advogados, Bolsonaro não respondeu à mensagem nem
cometeu qualquer ilegalidade. “A mensagem foi apenas recebida. Sem notícia de resposta.
Sem qualquer reação. Sem qualquer comunicação por parte do ex-presidente”,
declarou a defesa. Advogado de Trump Sobre o pedido de orientações feito pelo ex-presidente ao
advogado norte-americano Martin Luca, ligado ao presidente Donald Trump, para
se pronunciar sobre o tarifaço aplicado contra as exportações brasileiras, a
defesa disse que as trocas de mensagens ocorrem antes das medidas cautelares
decretadas contra Bolsonaro. “O advogado americano não é investigado em nenhum feito. E
não há qualquer proibição de contato do peticionário com o advogado”, pontuou a
defesa. Transferências A defesa também criticou a divulgação dos dados bancários de
Bolsonaro. De acordo com as investigações, o ex-presidente movimentou cerca de
R$ 30,5 milhões no período de um ano. “O pior é que uma transferência de dinheiro para sua esposa,
de valores com origem lícita, foi anunciada, com base em fontes, como um
indício de lavagem de dinheiro”, afirmaram os advogados. Law Fare Por fim, os advogados de Bolsonaro acusaram a Polícia
Federal de cometer Lawfare, tese jurídica que trata do uso de manobras para
prejudicar um investigado. A tese foi difundida no Brasil por Cristiano Zanin,
ex-advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atual ministro do STF. “O relatório da Polícia Federal causa espanto. Encaixa-se
como uma peça política, com o objetivo de desmoralizar um ex-presidente da
República - quer queiram as autoridades policiais ou não, ainda é um líder
político - expondo sua vida privada e acusando-o de fatos tão graves quanto
descabidos”, completam os advogados.
André Richter/Carolina Pimentel, com foto: Wilson Dias/Agência Brasil
|