31/08/2025
Polícia também indicia delegada esposa de empresário que matou gari a tiros em Belo Horizonte
BELO HORIZONTE, MG - “Eu sinceramente esperava que ela fosse
[vítima de Renê], mas, depois de tudo que vi hoje, não tem como ela ser tão
vítima assim”, afirmou Liliane França da Silva, viúva do gari Laudemir de Souza
Fernandes. Ela se refere ao indiciamento da delegada Ana Paula Lamego Balbino
Nogueira, esposa de Renê da Silva Nogueira Júnior, autor confesso do disparo
que matou Laudemir e também indiciado pela morte do gari. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou, na tarde
desta sexta-feira (29/8) que Ana Paula foi indiciada por porte ilegal de arma
de fogo, conforme previsto na Lei de Desarmamento, por ter cedido ou emprestado
sua pistola de uso pessoal para o companheiro. Renê foi indiciado por homicídio
duplamente qualificado — por motivo fútil e meio que dificultou a defesa da
vítima —, ameaça à motorista do caminhão de coleta e porte ilegal de arma de
fogo. Liliane já havia dito, em audiência pública realizada no dia
20 de agosto, que acreditava que a delegada fosse vítima do marido. No entanto,
com os desdobramentos desta sexta-feira, a viúva se disse triste e decepcionada
por Ana Paula ter deixado a arma nas mãos de Renê. “Minha tristeza maior em relação a ela é que é tão difícil
chegar no patamar que ela alcançou para nós, mulheres, conquistar o que ela
conquistou. Pelo menos para mim, tudo que conquistei foi com muita luta;
imagino que para ela também tenha sido”, afirmou Liliane ao Estado de Minas. A delegada A arma de Ana Paula, à qual Renê tinha acesso, foi usada no
homicídio de Laudemir, no dia 11 de agosto. De acordo com a PCMG, os exames
periciais realizados entre duas munições apreendidas no local do crime tiveram
compatibilidade com a pistola calibre .380 apreendida na casa da servidora
pública. O artefato é de uso particular da mulher e está apreendido desde
então. A delegada está afastada do cargo desde 13 de agosto, por
motivos médicos. Nessa quinta-feira (28/8), Ana Paula foi substituída no Comitê
de Ética em Pesquisa da Academia da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. A
decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE), em meio ao afastamento
da servidora por licença médica. Conforme o ato, assinado pela delegada-geral
da Polícia Civil, Yukari Miyata, a servidora foi substituída por uma
professora. A publicação não deixa claro se a mudança é definitiva. Desde 11 de agosto, a Corregedoria da PCMG instaurou um
procedimento administrativo para investigar a participação da delegada no
crime. No dia, Ana Paula foi levada até a sede do órgão correcional para ser
ouvida em relação ao uso de sua arma pessoal no possível crime. Na ocasião,
segundo repassado à imprensa pelo porta-voz da corporação, o delegado Saulo
Castro, a servidora afirmou que o marido não tinha acesso aos dois artefatos.
Além disso, a delegada disse não ter nenhuma informação em relação ao crime em
que o companheiro foi preso por suspeita de participação. Renê indiciado Renê da Silva Nogueira Júnior foi indiciado por homicídio
duplamente qualificado — por motivo fútil e meio que dificultou a defesa da
vítima —, ameaça à motorista do caminhão de coleta e porte ilegal de arma de
fogo. A pena pode chegar a até 35 anos. O empresário está preso desde o dia do crime, 11 de agosto,
e seguirá detido no Presídio de Caeté, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte. O resultado das investigações foi divulgado 18 dias depois do
homicídio, registrado na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, na
Região Oeste de Belo Horizonte. Em um primeiro momento, Renê negou ter cometido o crime e
passado pelo local na manhã de 11 de agosto. Ele chegou a dizer que saiu de
casa, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana, direto para
o trabalho em Betim, também na Grande BH. No entanto, o álibi foi derrubado
pelas investigações, que obtiveram imagens nítidas do carro do suspeito e dele
guardando a arma de sua esposa, delegada da PCMG, em uma mochila. Após a divulgação das gravações, na última segunda-feira
(18/8), o investigado, em novo depoimento, confessou que estava no local e
disparou a arma da esposa. Conforme registrado no termo de declaração da oitiva
pela PCMG, Renê afirmou que essa teria sido a primeira vez que pegou a pistola
.380, de uso particular da mulher. Ainda segundo a nova versão, ele teria feito
isso para se proteger, por “estar indo para um local perigoso” e por não
conhecer o caminho. A arma, então, seria “para proteção”.
EM, com foto: Reprodução/Redes Sociais
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