18/09/2025
Blindagem: parlamentares poderão matar, roubar e estuprar sem que sejam presos ou processados
BRASÍLIA, DF - Com votos favoráveis de 314 deputados,
conseguidos em uma articulação de lideranças do Centrão, a proposta final da
Câmara prevê que deputados e senadores somente poderão ser processados
criminalmente após aval da Congresso. Pior: o texto da PEC da Impunidade voltou
a incluir a obrigatoriedade de votação secreta para análise da abertura de processos
contra parlamentares. Esse trecho tinha sido retirado na noite anterior e foi
retomado na tarde desta quarta-feira (17). O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) resumiu o que vai
acontecer caso a PEC seja aprovada no Senado: “Para que todo mundo entenda a
gravidade da PEC da Blindagem, pense: se uma pessoa é pega em flagrante
roubando, ela é presa. Se uma pessoa é pega em flagrante matando, ela é presa.
Se uma pessoa é pega em flagrante estuprando, ela é presa também. Agora, com a
PEC que terminou de ser aprovada aqui no plenário da Câmara, isso não vai valer
para deputados e senadores. O que isso quer dizer? Que se um deputado for pego
em flagrante roubando num esquema de orçamento secreto, ele não vai poder ser
preso. Se for pego matando, ou cometendo violência doméstica, ou dirigindo
bêbado, ele não vai ser preso. Se for pego cometendo um estupro em flagrante,
ele não vai poder ser preso”. Boulos continua: “E quer saber mais? Para que ele possa ser
processado por esse crime, isso vai ter que ser autorizado pelo plenário da
Câmara. A maioria dos deputados vai ter que votar a favor para poder abrir o
processo! Está achando indignante isso? Então toma essa: a votação para definir
se abre o processo ou não contra o deputado ou senador que cometeu o crime vai
ser secreta! A gente tinha conseguido derrubar essa parte de voto secreto ontem
à noite, eles botaram no ‘tapetão’ e votaram aqui hoje. Ou seja: você não vai saber se o deputado que
você escolheu votou para absolver ou condenar o culpado. Isso é um chamado completo
à impunidade”. Para Túlio Gadelha, PEC é “crime contra a democracia” O psolista lamenta que os deputados bolsonaristas tenham comemorado
o resultado dessa votação. A retomada da votação secreta na análise de processos foi
acordada por lideranças do Centrão e pelo relator em reunião com o presidente
da Casa nesta manhã. A manobra regimental serviu para que a Câmara
restabelecesse o texto original do relator, Cláudio Cajado (PP-BA), que havia
sido derrubado na noite de terça (16). O deputado Bohn Gass (PT-RS) afirmou que não há
justificativa para a necessidade de autorização do Congresso para um
congressista ser investigado e punido. “A imunidade parlamentar não pode ser
confundida com impunidade parlamentar”, declarou. Para o deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE), a PEC poderia ter
sido construída para ser um texto razoável. “Se há reclamações de excesso,
podemos ouvir e tentar construir um texto melhor. Mas o que está aqui é um
crime contra a democracia”, afirmou.
ICL Notícias, com foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
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